VICTOR TRAVAGLINI

‘OBP: formado de piracicabanos para piracicabanos’

Por Erivan Monteiro | erivan.monteiro@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 8 min
Will Baldine/JP
‘Eu acredito que o Brasil possa ter um olhar diferente para a música erudita no futuro’
‘Eu acredito que o Brasil possa ter um olhar diferente para a música erudita no futuro’

A OBP (Orquestra Barroca de Piracicaba) foi fundada em janeiro de 2024, pelo músico Victor Correr Travaglini, de 25 anos, com a missão de apresentar para o público da cidade o riquíssimo mundo da música barroca, juntamente com todas as suas características próprias que se diferem muito de outros grupos instrumentais eruditos de Piracicaba.

Sendo assim, Travaglini espera colaborar para a popularização e a apreciação de um dos movimentos artísticos mais importantes e belos da história que é a Música Barroca, a ser apresentado especificamente até o século XVIII, que é pouco explorado, “transformando a nossa cidade também em um polo de música antiga na região”, declara.

Em sua formação completa, a orquestra conta com 12 pessoas, sendo violinos, violas, a família de baixo contínuo (Violoncelo, Contrabaixo, Cravo/Órgão e Violão), oboé e flauta. Mas cada programa possui uma escalação de instrumentos, podendo contar com frequentes participações de vozes solo e corais para o repertório sacro.

Na visão do músico, muito se fala sobre a precariedade da cultura erudita em nosso país, “mas precisamos de mais apoio e iniciativas que buscam enriquecer essa cultura de forma a mudar essa realidade, e nós, como uma dessas iniciativas, vamos fazer o possível para realizar nosso trabalho com qualidade e amor”.

O líder da OBP começou na música com apenas 12 anos, coral Projeto Guri, na Estação da Paulista. No mesmo projeto, iniciou os estudos no violino, até completar 18 anos. Passou também pela Academia Jovens Músicos, onde se aprimorou no violino moderno.

Dos 18 anos até os dias de hoje, Travaglini segue os estudos com aulas particulares tanto do instrumento moderno quanto do Barroco. Veja os principais trechos da entrevista ao Persona, do Jornal de Piracicaba, abaixo:

Você é o idealizador da OBP (Orquestra Barroca de Piracicaba). Conte-nos um pouco sobre a história da OBP... A orquestra foi fundada em janeiro de 2024, tendo sua estreia oficial em abril neste mesmo ano. Tem o objetivo de formar um novo grupo composto por músicos entusiastas da música antiga, sendo o intuito de apresentar para o público da cidade o riquíssimo mundo da música barroca, juntamente com todas as suas características próprias que se diferem muito com os grupos instrumentais eruditos que já temos em Piracicaba. Dessa forma, queremos democratizar o acesso a essa forma única de fazer música, contando um pouquinho sobre como foi o início da música ocidental que conhecemos hoje.

Qualquer pessoa pode ingressar na Orquestra? Qual o perfil de músico que vocês procuram? A orquestra é formada por um grupo misto de músicos, estudantes e profissionais amantes desse estilo e que buscam se desenvolver especificamente na performance histórica.

Como e quando são feitos os ensaios? Os integrantes precisam ter o próprio instrumento? Nossos ensaios ocorrem à medida em que preparamos os programas. Nossos músicos utilizam instrumentos próprios, porém, nossa orquestra ainda performa com instrumentos modernos, em sua maioria. O objetivo é que um dia a orquestra toda seja com instrumentos barrocos. Para instrumentos maiores, como o Cravo, por exemplo, conseguimos através de apoiadores que sempre estiveram presentes tornando a missão de levar a arte muito mais fácil!

Quantos integrantes compõem a orquestra atualmente e quais os instrumentos que tocam? Qual o tamanho vocês pretendem chegar? Em sua formação completa, a orquestra conta com 12 pessoas sendo, violinos, violas, a família de baixo contínuo (Violoncelo, Contrabaixo, Cravo/Órgão e Violão), oboé e flauta. Mas cada programa possui uma escalação de instrumentos, podendo contar com frequentes participações de vozes solo e corais para o repertório sacro. Não é necessário um grupo grande para a execução deste tipo de repertório, porém, a quantidade de músicos sempre dependerá da peça a ser executada variando muito em seu tamanho de concerto para concerto.

Você conta com o apoio da cidade para o seu projeto? Com certeza, o apoio da cidade, principalmente da Secretaria de Cultura, é essencial para fazer a música da OBP chegar na população de forma eficiente e natural. Manter uma atividade cultural demanda muito esforço e possuem muitos percalços pelo caminho que podem ser facilmente contornados com a ajuda e infraestrutura dos órgãos certos! Muito se fala sobre a precariedade da cultura erudita em nosso país, mas precisamos de mais apoio e iniciativas que buscam enriquecer essa cultura de forma a mudar essa realidade, e nós, como uma dessas iniciativas, vamos fazer o possível para realizar nosso trabalho com qualidade e amor. Na minha visão, isso serve como um combustível que me mantém animado para buscarmos a mudança desse cenário.

O que você pensa para os próximos anos? A nossa expectativa é se desenvolver e crescer cada vez mais como grupo e como músicos, atingindo os diferentes tipos de públicos, conquistando assim a popularização e a apreciação de um dos movimentos artísticos mais lindos da história que é a Música Barroca, transformando a nossa cidade também em um polo de música antiga na região.
Entre os objetivos da OBP está justamente a popularização da música clássica, certo? Sim, mais especificamente a música até o século XVIII, que é pouco explorada. Creio que, em nossa cidade, tenham muitos trabalhos lindos e de muita qualidade que abrangem com profissionalismo o repertório após esse período.

Piracicaba é uma cidade que, ao contrário do Brasil, tem muitos apreciadores da música erudita, não? Concordo plenamente. Nossa cidade, como mencionei acima, tem o privilégio de possuir inúmeros grupos musicais que realizam um trabalho maravilhoso na difusão da música erudita, tanto na parte profissional como na parte educacional. E é um dos motivos de eu achar que nossa cidade irá amar conhecer um pouco mais de como foi começo da história da música erudita. Será mais uma opção para o nosso riquíssimo cardápio musical da cidade.

Como está a agenda para este ano da OBP? Para esse ano temos programados mais dois concertos: um acontecerá nos próximos meses, com uma formação reduzida mostrando o melhor da música francesa. E o nosso tão esperado concerto de Natal, que acontecera no final do ano. Para saber datas de concerto e acompanhar os bastidores do nosso trabalho mais de perto, peço para que sigam nosso Instagram @orquestrabarrocadepiracicaba.

Fale da inspiração para chegar ao nome Orquestra Barroca de Piracicaba... Como eu disse, nossa cidade possui uma riquíssima variedade de formações e grupos musicais, tocando todo o tipo de repertório que possam imaginar. Senti que faltava alguma coisa para contar sobre o início de tudo; somando isso e o orgulho da nossa terrinha, resolvi nos batizar de um grupo formado de piracicabanos para piracicabanos!

Na sua opinião, é muito complicado massificar a música clássica no Brasil? Acredita que, um dia, poderemos ter um olhar maior para a música clássica? Sim, mas creio que não seja algo unicamente brasileiro, mas sim algo que está relacionado com a fase da sociedade em que estamos hoje. A era digital e universo do conteúdo vertical fez com o que a sociedade fosse ficando mais ansiosa e atividades como ir ao teatro, ir a uma sala de concertos sejam atividades facilmente descartáveis, desestimulando ainda mais a grande massa da população a se interessar por isso. A Europa é um exemplo sempre muito citado quando o assunto é música erudita, mas esquecemos de mencionar muitas vezes que a música erudita possui uma representatividade cultural muito forte para eles, da mesma forma que o samba tem para nos brasileiros por exemplo. Você pode perguntar para qualquer um que vive no Brasil sobre o samba e todos ao menos vão saber o que é! É a mesma coisa para os europeus com a música erudita. Isso não faz eles culturalmente mais evoluídos que nós. Apenas exibe as diferentes referências históricas que cada povo enfrentou ao longo dos anos. O problema aqui do nosso país é que existem poucas ferramentas sociais e interesse por parte dos líderes em fomentar projetos culturais que fujam das tendencias comerciais. Eu acredito que o Brasil possa ter um olhar diferente para a música erudita no futuro, desde que haja interesse das autoridades em difundir essa arte, tratando-a mais como educação cultural do que apenas ferramentas comerciais. Dessa forma, tenho certeza de que teremos mais pessoas conhecendo as quatro estações de Vivaldi da mesma forma que conhecem o último álbum da "Taylor Swift".

Quando começou a sua experiência com a música e sua formação musical? Meu primeiro contato com a música começou aos 12 anos de idade no coral do projeto Guri, que acontece na Estação da Paulista. No mesmo projeto, iniciei meus estudos no violino, permanecendo no instrumento e no coral até completar 18 anos. Passei também pela Academia Jovens Músicos me aprimorando mais no violino moderno. Dos 18 anos até os dias de hoje sigo meus estudos com aulas particulares tanto do instrumento moderno quanto do Barroco. Meu contato com a música antiga aconteceu de forma muito natural. A área de performance histórica sempre foi uma paixão minha, me instigando a me aprofundar no assunto, o que me levou adquirir um instrumento barroco e iniciar as aulas para esse instrumento específico. Neste ano, tive a honra de participar do primeiro núcleo de música antiga do Festival de Inverno de Campos do Jordão, que aconteceu neste mês de julho. Nele, tive a oportunidade de trabalhar ao lado das maiores autoridades de performance histórica do nosso país, onde adquiri ensinamentos valiosos que serão levados e utilizados pela OBP, somando ainda mais para o crescimento do grupo.

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