
Em uma análise durante o programa Roda Viva, o renomado professor emérito da USP e pesquisador do Nupens, Carlos Augusto Monteiro, estabeleceu um paralelo preocupante entre a indústria de alimentos ultraprocessados e a do tabaco. Segundo o especialista, as táticas empresariais de ambos os setores convergem em estratégias focadas no lucro, na utilização de componentes que podem gerar dependência e na disseminação de informações que minimizam os riscos à saúde. "Tem muita razão, muito sentido você tratar o ultraprocessado como tabaco", afirmou Monteiro, sublinhando a similaridade nas estratégias empresariais, que incluem o foco no lucro, o uso de substâncias que causam dependência e campanhas de desinformação.
VEJA TAMBÉM:
- Torta de padaria supostamente envenenada leva 3 à UTI
- Escola reclama de lanche de aluna que não pode comer glúten
- Após rasgar colega com faca, homem é quase linchado em Piracicaba
Monteiro enfatizou que, assim como o cigarro, os ultraprocessados exercem um impacto negativo em diversos sistemas orgânicos. Ele apontou para a atuação de grandes corporações transnacionais por trás desses produtos, que investem significativamente em marketing persuasivo e em lobbying para influenciar decisões políticas e regulatórias. "Eles usam o mesmo 'playbook' da indústria do cigarro: negam evidências científicas, tentam desacreditar pesquisas e influenciam legisladores para evitar regulações mais rígidas", completou.
Um ponto crucial levantado por Monteiro é a transição de algumas empresas do setor tabagista para o ramo alimentício. Essa migração trouxe consigo tecnologias avançadas para a criação de produtos altamente palatáveis e, por vezes, enganosos. Ele ilustrou essa questão ao explicar que "elas levaram junto as tecnologias para criar produtos irresistíveis, com aromas artificiais que simulam ingredientes reais — como biscoitos com 'sabor amêndoa' que não têm uma única amêndoa".
Diante desse cenário, Carlos Augusto Monteiro defende uma mudança radical na forma como as políticas públicas abordam os alimentos ultraprocessados. Ele argumenta que a gravidade dos riscos à saúde exige uma resposta com a mesma determinação e rigor aplicados no combate ao tabagismo, incluindo regulamentações mais eficazes e um esforço contínuo de conscientização da população.