Combustível produzido em larga escala no Brasil, e que tem uma história considerada revolucionária para a indústria automotiva brasileira, o uso do etanol como combustível no Brasil completa 100 anos em 2024, com mais uma transformação a nível mundial no caminho: o uso do álcool como forma de chegar ao hidrogênio utilizado para movimentar motores, com a participação da Raizen, que tem sede em Piracicaba.
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Considerado como uma das principais alternativas à gasolina por conta do preço e pela sustentabilidade, as primeiras experiências com o etanol combustível em terras brasileiras começaram em 1924, na Usina Serra Grande, em Alagoas. Por lá, os primeiros testes com o combustível se iniciaram. Em 1925, um carro da Ford, com motor de quatro cilindros abastecido com o combustível proveniente da cana de açúcar, participou de uma corrida no Rio de Janeiro. Após esse uso, o incentivo à adoção do etanol foi sendo ampliado, muito incentivado pela economia. Com a Crise do Petróleo, que atingiu todo o mundo na década de 1970, o governo brasileiro criou o Proálcool para reduzir a dependência do petróleo importado. Já nos anos 2000, o etanol foi ganhando cada vez mais protagonismo no mercado com a introdução dos veículos flex, que aceitam tanto a gasolina quanto o álcool. Segundo o Ministério de Minas e Energia, apenas em 2023, o Brasil já produziu 43 bilhões de litros do álcool.
Agora, em 2024, no centenário do uso do etanol como combustível no Brasil, foi dado início à operação da primeira planta de conversão de etanol de hidrogênio a partir do etanol do mundo. O projeto foi instalado na USP (Universidade de São Paulo), e produzirá inicialmente 4,5 quilos de hidrogênio por hora – aproximadamente 100 kg por dia. O combustível será utilizado para o abastecimento de três ônibus urbanos que circularão pelo campus da USP, em São Paulo, e um rodoviário, que terá autonomia de 450 quilômetros, o suficiente para vir de São Paulo a Piracicaba. A pesquisa acontece em parceria entre a USP, Shell e Raízen, maior produtora de etanol de cana-de-açúcar do mundo, que fornecerá o combustível. Segundo o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, o hidrogênio produzido a partir do etanol terá uma importante participação na matriz energética nas próximas décadas. “Principalmente por reduzir significativamente os desafios envolvidos no transporte e distribuição do produto, que pode aproveitar a infraestrutura do etanol já existente nos postos, garantindo o abastecimento de veículos de forma rápida, sustentável e segura”, disse.
Além disso, a Raízen deu início à construção de um novo centro de bioenergia no bairro dos Jequitibás, em Piracicaba. O empreendimento, que tem parceria com a Shell e com o Senai, tem como objetivo o desenvolvimento de soluções de descarbonização a partir da cana-de-açúcar. Nos cinco anos iniciais, as pesquisas do Centro de Bioenergia focarão em ganhos de eficiência e sustentabilidade no processo de produção de Etanol de Segunda Geração (E2G), produzido em escala comercial no país.
Piracicaba no Centro
As pesquisas de conversão de hidrogênio com etanol também movimentam a indústria automotiva de Piracicaba. Em março de 2024, a Hyundai anunciou que usará a planta piracicabana nos estudos de conversão de hidrogênio nos carros da montadora. No último dia 22 de fevereiro, foi anunciado que a montadora vai investir R$ 5,5 bilhões na unidade de Piracicaba para as pesquisas. Segundo o presidente da Hyundai para a América Latina e Sul, Airton Cousseau, o investimento bilionário no Brasil foi feito por conta da disponibilidade do etanol de segunda geração, utilizado no processo.