OPINIÃO

Eleição de Helinho Zanatta põe um fim à Era Barjas

Por Marcelo Batuíra Losso Pedroso |
| Tempo de leitura: 5 min

Desde o longínquo ano de 1993, quanto Antônio Carlos Mendes Thame, então deputado federal, tornou-se prefeito de Piracicaba pelo PSDB, deu-se início ao período de ascensão da chamada “social democracia” às terras piracicabanas. Um breve hiato desse domínio foi a eleição de José Machado pelo PT, mas que durou apenas uma gestão. A retomada foi feita com Barjas Negri, então ex-presidente da Câmara dos Vereadores, ao vencer toda a popularidade de Roberto Morais, então deputado estadual.

Por um período de 16 anos iniciou-se uma era política personalista e populista no qual um mesmo grupo político, secretários e inúmeros cargos comissionados se revezavam ou apenas trocavam cadeiras. Não havia espaço para outro pensamento nem para divergências, um modelo de gestão fora imposto e criou raízes firmes. Tais quais ervas daninhas, são difíceis de arrancar. Mas os processos por atos de improbidade e má gestão da coisa pública vieram um atrás do outro.

Os primeiros foram todos eles rechaçados e barrados pela Justiça Federal de Piracicaba (em primeira instância), mas perante o Tribunal (segunda instância do Poder Judiciário), essas decisões foram revertidas em condenações com penalidade de suspensão de direitos políticos, nos termos da lei da Ficha Limpa. Na disputa eleitoral do ano de 2020, sobreveio o inevitável: o então imbatível candidato Barjas Negri não conseguiu vencer em primeiro turno das eleições, pois já não possuía a unanimidade de aceitação do eleitorado.

No segundo turno veio o golpe decisivo: o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) cassa sua candidatura a apenas alguns dias antes da votação. O Jornal de Piracicaba foi o único órgão de imprensa da cidade a estampar, em letras garrafais, que se vencesse as eleições de 2020, Barjas Negri não poderia assumir a prefeitura, já que sua candidatura não tinha mais o respaldo da Justiça Eleitoral. Fomos, à época, acusados de propagar fake news, pois, às vezes, uma verdade tão dura só pode ser combatida pela negação.

Mas no fim, a verdade superou o temor e os eleitores piracicabanos optaram por Luciano Almeida. Mas a pandemia adveio e a cidade, como todo país, teve que parar. Mas nesse tempo, o entendimento do STF mudou: agora era necessário que o condenado por atos de improbidade na gestão pública tenha que esgotar todos os recursos judicias possíveis para que a penalidade possa ser aplicada. Barjas Negri consegue várias decisões favoráveis nesse sentido e volta a ser elegível.

Os quatro anos da gestão de Luciano Almeida não foram suficientes para apagar o grande ícone da política piracicabana: enquanto a rejeição do atual prefeito crescia, Barjas viu seu nome ser clamado de volta. As liminares judiciais, obtidas nos vários processos nos quais é réu, lhe foram mais do que úteis. Barjas precisava apenas de um aval, mesmo que frágil, da Justiça Eleitoral, precisava dizer que não estava impedido de se candidatar. Sobretudo, era necessário vender a idéia (equivocada) de que ele era a única alternativa viável.

O melhor cabo eleitoral de Barjas nesses anos foi, sem querer, o atual prefeito. Luciano Almeida não é, nem nunca foi, um político na acepção clássica da palavra. É um gestor e como tal focou na redução de despesas, cortou gastos, suspendeu regalias, eliminou por completo todas as horas extras dos funcionários públicos, suprimiu cargos comissionados, devolveu imóveis alugados e reduziu o gasto público. Os contratos de coleta de lixo e o PPP do Mirante lhe travaram as ações. A falta de água crônica, herança do passado, implodiu no seu governo. Atraiu muitos investimentos na iniciativa privada, mas estes só darão seus frutos no futuro. Não soube transmitir à população aquilo que fez. Gestão sem gastos públicos é sinônimo de gestão impopular.

Barjas soube capitalizar o descontentamento do piracicabano e novamente lançou as bases para um quarto mandato só seu, uma gestão “extraordinária”, onde todos aqueles cargos comissionados teriam seus lugares de volta, as horas extras do setor público voltariam e todos os problemas da cidade seriam muito fáceis de se resolver. É a velha, mas fácil, solução mágica. É o canto da sedução populista. E assim, só haveria uma opção para Piracicaba: ele mesmo. O velho jeito de fazer política estaria de volta, novas raízes seriam fincadas e tudo voltaria a ser como antes. Piracicaba poderia ter de volta seu salvador. O medo do novo e a decepção do atual eram os combustíveis da velha política. E essa candidatura teria (e teve) o beneplácito da Justiça Eleitoral, uma vez que ainda não ocorreu o “trânsito em julgado” nos vários processos em que foi condenado por atos de improbidade e suspensão de direitos políticos.

O cenário parecia previamente decidido, não fosse o firme embate dos candidatos no primeiro turno. Os quatro anos de gestão de Luciano Almeida não foram suficientes para pôr um fim na expectativa de retorno de Barjas Negri. Ele ainda queria um quarto mandato. Mas Piracicaba lhe respondeu não. A resposta das urnas veio no domingo e veio retumbante. E aqui fazemos um voto de louvor à Alex Madureira, quem superou todas as pesquisas de intenção de votos, quem cativou eleitores e os imbuiu de esperança de um novo recomeço e, sobretudo, quem soube, com nobreza de espírito, aceitar a derrota e se unir para que Piracicaba pudesse ter uma segunda chance.

Os ventos agora sopram noutra direção. A vitória de Helinho Zanatta colocou um fim à velha política. Os quatro anos a seguir vão marcar o início de um novo começo. Barjas Negri, hoje aos 74 anos, pode considerar encerrada sua era, para alegria ou para a tristeza. A reposta das urnas de domingo colocou a última pá de cal. Não haverá mais o saudosismo das suas pontes de concreto, das suas inúmeras soluções fáceis, das galinhas de angola que resolvem infestação de escorpiões nos hospitais públicos.

O eterno retorno do filho pródigo não assustará a próxima eleição. Daqui a 2 anos, época das eleições para deputado, é tempo suficiente para que seus muitos recursos judiciais sejam devidamente julgados. Daqui a quatro anos, o velho discurso e o saudosismo não encontrarão solo fértil para brotar. E o mito do político infalível será uma nota de rodapé em nossa história.

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