ARTIGO

O mundo sombrio das apostas online na casa dos brasileiros


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Segundo pesquisa do Banco Central sobre o mercado de apostas online no Brasil, apenas em agosto, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 3 bilhões à indústria das apostas por meio do Pix. Cerca de 70% dos apostadores são os próprios chefes de família, isto é, os responsáveis pela aplicação do Bolsa Família para custear as necessidades mais básicas de seus dependentes. Hoje, os brasileiros pagam impostos para que os beneficiários do Bolsa Família transfiram a renda que recebem do governo brasileiro para os riquíssimos donos de sites e aplicativos de apostas esportivas.

Estima-se que cerca de 24 milhões de pessoas físicas apostam em jogos de azar com volume mensal de R$ 21 bilhões de transferências via Pix desses indivíduos para as empresas de apostas, sem levar em conta outras modalidades de pagamento. A maioria dos apostadores tem entre 20 e 30 anos, ou seja, adultos no auge da capacidade de estudo e trabalho jogam fora tempo precioso de suas vidas com o vício em jogatinas. Na expectativa de ganhar dinheiro fácil, pessoas das classes mais baixas estão se endividando, o que impacta diretamente o mercado de crédito, o nível de inadimplência e a economia nacional, com prejuízos esperados para o setor produtivo.

 O impacto do jogo na economia nacional pode ter tirado R$ 150 bilhões do setor produtivo somente no ano de 2023, segundo levantamento do banco Santander.  Todavia não se trata apenas de questão econômica, mas, sobretudo, de saúde pública. A exposição ao jogo em aplicativos de celulares, sem sair da própria casa, é malefício sem precedentes, nunca vivenciado por nenhuma geração, conforme atestou o relatório recente do parlamento australiano.

As plataformas de apostas são construídas para manter o usuário engajado, criando estímulos cerebrais e psicológicos, por meio de animações e esquemas visuais que criam dependência e falsa sensação de controle. Em outras palavras, são projetadas deliberadamente para criar o hábito do jogo desenfreado e sem limites, isto é, o vício que produz gastos financeiros crescentes e perdas devastadoras.

 Os jogadores comprometem a renda familiar, as aposentadorias e são levados a vender bens com promessas de “recuperar” suas perdas. A promoção da lógica do cassino destrói a saúde mental, levando os apostadores ao estresse, à ansiedade e à depressão.

As apostas têm sido anunciadas de modo absolutamente pernicioso até mesmo a crianças e jovens, apesar de serem estritamente proibidas a menores de 18 anos. Personalidades esportivas e atletas consagrados do futebol fazem propagandas prometendo ganhos fáceis e apresentando as apostas como solução para alcançar riqueza e felicidade.

Atletas medalhistas olímpicos que conquistaram a vitória após uma vida de trabalho árduo, disciplina e persistência sucumbiram à ganância das verbas publicitárias para mentir deliberadamente e anunciar o que existe de pior para a população. Usam de sua glória esportiva para induzir crianças e jovens que os admiram ao vício mais cruel, fazendo-as enveredar por caminho tortuoso oposto ao que escolheram para suas próprias vidas. Vários atletas são parceiros ou até sócios das plataformas de apostas, aumentando sua fortuna e lucrando de modo vil sobre a fragilidade da população menor de idade, mais carente e desinformada.

A jogatina também é associada a outros vícios como o uso de álcool e drogas. Gera o aumento de conflitos familiares, divórcios e violência doméstica, contribuindo para o feminicídio, agressões a menores e até suicídio.

É urgente a necessidade de regulação e proibição total das apostas, como no caso de uso dos recursos do Bolsa Família.

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