ARTIGO

O viés ideológico e partidário da Conferência Nacional de Educação – parte II

Por Erica Gorga | 25/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

No dia 5 de novembro de 2023 foi publicada aqui a primeira parte deste artigo, quando expliquei que uma verdadeira revolução de cunho ideológico e político está acontecendo na educação brasileira, com a introdução sistemática de bandeiras da extrema esquerda nos currículos escolares e nas provas do Ensino Médio, bem como na admissão às universidades públicas. Outro artigo de minha autoria, sobre o viés ideológico do Enem, aqui publicado no dia 12 de novembro de 2023, discutiu questões do Enem caracterizadas por cunho notadamente político, as quais demonizaram o agronegócio nacional, a propriedade privada e o capitalismo, associando-os a estruturas de opressão.  O exame criticou os “conceitos padrões” da biologia e celebrou os atletas transgêneros que competem entre as mulheres.

No artigo de hoje retomo ao tema, lembrando a convocação da Conferência Nacional de Educação (Conae), edição 2024, que ocorrerá nos próximos dias 28 a 30 de janeiro, em Brasília, e discutirá o Plano Nacional de Educação (PNE), decênio 2024-2034. A Conae tem como objetivo estabelecer as diretrizes, as metas e as estratégias para a educação de todas as crianças e jovens brasileiros na próxima década.

O “Documento Referência” que serve de base para a conferência contém 179 páginas e está publicamente disponível no site  https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2023/outubro/publicado-documento-referencia-da-conae-2024. Tal documento utiliza jargão extremamente ideologizado e partidário, mais parecendo um manifesto político do Partido dos Trabalhadores (PT), ao invés de um plano adequado para um projeto de educação nacional.Parte superior do formulário

Já no preâmbulo do que deveria ser uma proposta educacional, o “Documento Referência” acusa que o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 teria desconfigurado a “agenda democrática” da Conae de 2018. Na introdução surge outra acusação, a de que teria havido uma “política de austericídio fiscal”, consubstanciada no “Teto de Gastos” que, diga-se de passagem, foi legalmente aprovado pelo Congresso Nacional por meio da Emenda Constitucional 95/2016.

Assim, o documento atribui os números ruins da educação brasileira exclusivamente às políticas conduzidas por outros governos, que permaneceram no poder por muito menos tempo que o PT, culpando-os por terem realizado um “projeto de desmonte” do Ministério da Educação. Segundo o documento, “os efeitos deste desmonte produziram agravamento das condições de oferta e nos índices educacionais, e, como realçado, aumentaram as desigualdades educacionais e sociais do país (...)”.

O “Documento Referência” esquece completamente do período em que o PT passou na presidência do país e de sua responsabilidade sobre os sérios problemas educacionais que acometem a nação. Indo além, classifica o impeachment da presidente Dilma Rousseff como “golpe de Estado” (p. 16 do documento), como se não tivesse havido um processo legal de impeachment presidido pelo Ministro Lewandowski do STF no Senado Federal. Ainda na introdução, o documento diz que a educação deve promover a “diversidade (...) de orientação sexual”, como se coubesse às escolas direcionarem os alunos para sua escolha sexual.

Durante toda a leitura, salta aos olhos o grau de ideologização e partidarismo que permeiam a publicação. Fica evidente que, na realidade, é proposta uma revisão da história que ovaciona o PT como o grande realizador de políticas educacionais, sem levar em conta quaisquer números sobre o pífio desempenho educacional que há muito exibem os alunos brasileiros da rede pública de ensino quando comparados aos de outros países, conforme atestam as diversas métricas internacionais.

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