DIA DO ROCK

'Piracicaba sempre tem público': underground é refúgio do rock autoral

Espaços menores, proximidade com o artista e diferentes opções além do tradicional atraem fãs para a cena independente

Por Roberto Gardinalli | 13/07/2023 | Tempo de leitura: 4 min
roberto.gardinalli@jpjornal.com.br

Divulgação

Into the Void é uma das bandas da cena underground de Piracicaba
Into the Void é uma das bandas da cena underground de Piracicaba

Eventos com três ou quatro bandas, shows de aproximadamente uma hora. Estilos que variam do rock n roll mais clássico, passam pelo indie até chegar no metal mais moderno e pesado. Em meio a tudo isso, pessoas que estão interessadas em curtir e conhecer novas músicas. Os ambientes agitados convidam as pessoas a chegarem, ouvir a música e sair de lá com um produto exclusivo de cada artista. A cena underground - termo utilizado para descrever manifestações culturais que fogem do padrão comercial - mantém a intensidade que fez o rock se popularizar nos seus primeiros dias de vida.

Assim como em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, o underground de Piracicaba não passa despercebido do público. “Piracicaba, hoje eu vejo que o público, de todos os gêneros, de todas as bandas, é bem legal. Independente de onde você vai tocar, sempre tem público. Em qualquer dia, em dia de semana, não só com a nossa banda, mas com outras, sempre tem público. Piracicaba deu um up gigantesco no ramo da música”. A fala é do baterista Jhonattan Henrique Jorge, da banda piracicabana Into the Void, de um gênero de heavy metal conhecido como deathcore. O grupo, que surgiu em 2020, durante a pandemia, já tem dois singles e um álbum, lançado em 2022, e finaliza em julho uma turnê pelo interior paulista, com outras bandas da cena. “Focamos em tocar tocar mais em Piracicaba para pegar público, mas o pessoal da região chamava muito a gente. No pós pandemia, a cena na região começou a movimentar mais ainda. Começou a voltar bar, produtor e o público também”, comentou.

A movimentação da cena, em eventos realizados principalmente em locais menores, e com vários artistas atrai a atenção de pessoas que, além da diversão, buscam conhecer novas bandas. No caso do engenheiro Gabriel Moraes Martins, o interesse pela cena surgiu quando ele quis conhecer as origens de bandas que já gostava, e se apaixonou pelo meio.

“Inicialmente tive a curiosidade de entender as origens dos movimentos que gosto. Com recomendações, fui conhecendo bandas mais ‘escondidas’”, disse. Outro fator decisivo foi a possibilidade de estar mais perto do artista e torná-lo, principalmente, mais humano. “Em grandes arenas, há a beleza do espetáculo, a energia de dezenas de milhares de pessoas, mas os artistas estão longe”, comentou. “Em um show underground, onde a quantidade de pessoas é infinitamente menor, você vê o suor marcado na camiseta, a corda do instrumento vibrando, problemas que podem acontecer no som. E ver aquela presença forte no palco vir conversar com você enquanto você compra uma camiseta ou CD, parece humanizar toda a coisa”, completou.

CORRE
O cenário tem como característica, também, a movimentação dos artistas pelos eventos. “A gente mesmo ia atrás do pessoal das casas de show, eles organizavam o show e chamavam a gente. Depois que a gente começou a crescer mais e o Bayside Kings (uma das bandas mais conhecidas da cena nacional) chamou a gente para tocar em São Paulo, deu uma visibilidade maior”, disse Jhonattan. “Quem marca os nossos shows sou eu, mas muita gente convida a gente, pessoal de outras bandas. ‘A gente vai tocar aí, tem como tocar com a sua banda, depois a gente faz uma ponte e vocês vem tocar aqui. A gente que faz o corre”, disse o músico.

A dedicação, para os fãs de música, amplia ainda mais a importância de uma cena que ajuda a girar o mundo artístico, além das grandes apresentações e estádios e grandes casas de show. O underground se torna um espaço acolhedor para quem gosta e quer conhecer novos artistas. “Essas bandas tocam em festivais, com várias bandas, e isso torna-se uma excelente oportunidade de conhecer bandas novas. Neste ano fui em um evento em Pira, para ver o show da banda Pense, mas conheci outras, como Bayside Kings e o Sugar Kane, e especialmente o segundo se tornou uma banda mega querida desde então”, disse Gabriel.

“É um lugar onde grandes ideias nascem, porém não necessariamente reconhecidas. Não é incomum vermos grandes artistas frequentando ambientes assim, seja por serem fãs, ou justamente para se expor a ideias novas. Acredito que a música independente seja a estrutura que silenciosamente mantém vivo um sentimento e atitude que perde-se com o sucesso. De ousar e tentar descobrir novas maneiras de expressão dentro da música”, completou o fã.

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