REVOLUÇÃO

'Tudo parou em Piracicaba': esforço de guerra mudou a rotina da cidade em 1932

Por Roberto Gardinalli | roberto.gardinalli@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Ex-combatente Romeu (centro), ao lado dos filhos, morreu aos 100 anos em 2016
Ex-combatente Romeu (centro), ao lado dos filhos, morreu aos 100 anos em 2016

No dia 9 de julho de 1932, 91 anos atrás, começava um dos eventos mais importantes da história do Brasil. A revolta dos paulistas sobre o governo de Getúlio Vargas, devido à falta de uma Constituição e à não realização de eleições presidenciais, ampliados pela morte dos estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, por forças paramilitares ligadas ao governo federal, fez com que soldados paulistas pegassem armas e fossem lutar por uma nova Constituição. Naquele dia, teve início a Revolução Constitucionalista de 1932. O conflito durou três meses, e acabou com os paulistas derrotados no campo de batalha. Dois anos mais tarde, uma assembleia Constituinte, foi convocada. O esforço de guerra contra as tropas federais tomou o Estado, e teve a participação direta de Piracicaba.

“Daqui, mais ou menos 600 pessoas que se voluntariaram e combateram nessa revolução, que foi uma guerra civil armada. Muitas dessas pessoas acabaram morrendo”, disse Edson Rontani Jr., presidente do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba), e presidente do Núcleo MMDC Voluntários de Piracicaba de 2013 a 2021. Segundo Rontani, a revolução começou em Piracicaba no dia 16 de julho, quando saiu, da Estação da Paulista, o primeiro trem com voluntários. “Piracicaba tinha em torno de 30 mil habitantes na época, 200 pessoas partiram para engrossar os batalhões que iriam, principalmente, para o setor norte do estado de São Paulo”, explicou.

A convocação foi no Teatro Santo Estêvão, localizado na Praça Sete de Setembro, onde hoje é a Praça José Bonifácio. De lá, eles seguiram pela Rua Boa Morte, em direção à Estação da Paulista. O primeiro destino foi Quitaúna, bairro de São Paulo onde hoje é a cidade de Osasco. “De lá, partiram para diversos fronts, em especial a cidade de Registro, onde boa parte dos piracicabanos que combateram, morreram”, disse o especialista. “Eram pessoas como jornalista, farmacêutico, músico, que nunca pegaram em armas”, disse.

Entre esses voluntários, estava Romeu Gomes, à época, com 17 anos. O combatente piracicabano faleceu em 2016, com 100 anos. “Ele queria defender a pátria, queria defender o estado de São Paulo”, disse Rosélis Gomes de Oliveira, filha de Romeu. Ela e o irmão, Ronaldo, cresceram ouvindo as histórias do pai sobre o combate. “Eles saíram da Estação da Paulista, e foram até Pindamonhangaba. Ele contava que eles deitavam nas trincheiras, que tinha aquele barulho, e que morreram muitos. Ele e outros daqui graças a Deus se salvaram, se defenderam muito bem pela idade deles”, disse Rosélis.

Para a família, a época da comemoração do dia da Revolução é muito importante, e que fazia questão de estar presente em todas as homenagens. “Ele falava ‘quero cortar o meu cabelo, quero ir bonito porque eu defendi o nosso estado de São Paulo’”, lembrou. “E ele fazia questão que os filhos, netos e bisnetos fossem. Apesar de ser uma criança, com 17 anos ele foi defender o estado de São Paulo”,completou.

ESFORÇOS

Com o conflito avançando, todo o estado precisou dedicar à produção. “Em 1932 tudo parou aqui em Piracicaba. Aulas, jogos de futebol, houve uma força tarefa para fazer a alimentação, roupas para os soldados”, disse Rontani. “Todos os troféus que o XV ganhou até 1932 foram derretidos para fazer munição. Houve uma movimentação muito grande do comércio, tanto que um ano depois, houve a criação da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba)”, comentou. O conflito terminou com a rendição dos paulistas, em outubro.

A derrota no campo de batalha não tira o orgulho dos familiares de combatentes da época. Rosélis, filha do soldado Romeu Gomes, confirma o orgulho do pai. “Ele era muito fiel ao 9 de julho. E a emoção que ele passou é a emoção que a gente sente. É uma história muito bonita, não só do meu pai, mas de muitos combatentes que foram e lutaram pela nação”, afirmou.

Clique para receber as principais notícias da cidade pelo WhatsApp.

Comentários

Comentários