
Vanessa Cristina Guilhermon Rodrigues é psicóloga graduada pela Universidade Metodista de São Paulo, psicóloga esportiva com atuação em equipes, psicopedagoga especializada em Neuropsicopedagogia, ludoterapia, educação inclusiva, coaching infantil coordenadora pedagógica, gestão escolar e orientadora educacional no ESI (Educação Scalabriniana Integrada), professora há 22 anos, atuando em educação infantil e fundamental. Tem experiência em aulas particulares paraoensino fundamental e médio,eavaliação de desempenho de alunos em processos sem atribuição de notas.
Trabalha com a abordagem pedagógica sócio construtivista, que procura levar o aluno a construir seu conhecimento a partir de sua própria experiência. Um dos lemas de Vanessa é: “a infância é um chão que se pisa a vida inteira”, precisa de atenção, respeito, carinho e acolhimento. Nesta entrevista ao Persona, do Jornal de Piracicaba, a psicóloga e psicopedagoga orienta como devemos tratar as crianças, e como lidar com o comportamento e seus limites.
Como devemos orientar as crianças a lidar com ódio/ raiva e frustração e como dar limites?
O ponto de partida para esses sentimentos, primeiramente está em oferecer às crianças uma infância feliz... Sabe aquela coisa de que a criança de hoje é o adulto de amanhã? Então, se a criança tiver uma infância feliz, ela crescerá de forma saudável, livre de traumas e sem confundir limites com traumas. A infância é um chão que pisamos a vida toda, portanto se pisarmos em amor, segurança e confiança, certamente seremos adultos extraordinários, determinados, seguros e confiantes. Além disso, expressar os sentimentos é algo muito difícil, mas antes de expressá-los precisamos aprender a identificá-los. Hoje, muitos adultos não conseguem expressar o que sentem porque enquanto crianças não aprenderam a nomear seus sentimentos. Observamos que nos últimos anos há um destaque significativo para a educação socioemocional, na tentativa de desmistificar os sentimentos e neutralizar os preconceitos. Esse trabalho é importantíssimo para auxiliar em um desenvolvimento infantil saudável e seguro. À medida que a criança cresce sabendo o seu papel e identificando os sentimentos, fica mais fácil compreender até onde ela pode ir. Claro que são crianças e muitas vezes irão testar os adultos à sua volta, mas a base da psicologia positiva nos ensina que através do diálogo tudo que é combinado e cumprido nunca sai caro. Importante lembrar também que os adultos são modelos para as crianças e que elas observam tudo a sua volta, reproduzindo assim o ambiente que convivem.
Quais são a s r eações mais comuns da frustração infantil?
A frustração é um sentimento doloroso, porém necessário. O primeiro “não” que uma criança recebe e que sinaliza limite, acontece na escola, pois somente a convivência entre pares, permite compreender que eu tenho limites na relação com o outro. Para a psicologia, esse sentimento é uma resposta emocional à oposição. Geralmente a frustração está ligada a outros sentimentos como a raiva, a decepção, o aborrecimento e outros. Ficamos frustrados toda vez que nos sentimos impotentes diante de uma situação, pois desde cedo nos passam a ideia der que seremos recompensados se dermos o nosso melhor e fizermos as coisas bem-feitas. Pois então, quando tudo não sai conforme planejado ou conforme o nosso desejo, a frustração aparece. Para o desenvolvimento infantil, é importante que este sentimento seja trabalhado na infância, pois auxiliará na criação de habilidades para passar por esse sentimento e consequentemente fortalecerá o adulto que se tornará um indivíduo mais resiliente.
Como lidar com as frustrações?
Educar para enfrentar a frustração é uma forma de ajudar a enfrentar as adversidades da vida. No entanto, é fundamental que os adultos façam a mediação das situações adversas que a criança vive, sejam elas positivas ou negativas. Essa mediação vai mostrar à criança que nem sempre o mundo oferece as respostas que queremos. Além disso, preparamos o adulto de amanhã para aceitar os diversos “Nãos” que a vida nos oferta. Respeitar o momento de dor é fundamental para que haja um diálogo posterior. Enquanto respeitamos as reações da criança frente a esses momentos, devemos assegurar que ela não está sozinha e que podemos conversar quando a raiva, o choro, abraveza ou qualquer outro sentimento passar. Se a criança não passar por este sentimento, certamente não saberá como desenvolver formas próprias de lidar com ele. A frustração estimula a produção de hormônios, o que faz com que as reações sejam mais defensivas e pouco ou quase nada racionais, pois no momento de estresse, a capacidade de raciocínio, análise, síntese e clareza da situação diminuem significativamente. Dar segurança a criança em momentos como esses, permite que o cérebro saia do sistema de alarme e então passe a enxergar a situação de outra forma. No entanto, estamos diante de seres em desenvolvimento e será a partir da nossa mediação que a conexão de sentimentos dará condições da criança perceber como poderá reagir em uma próxima vez.
Como trabalhar com o emocional de uma criança?
Quando a vida escolar inicia, a criança percebe que ela não éocentro do mundo, pois precisa lidar com o outro, que por sinal, é muito diferente dela. Precisa também se acostumar às novas regras, que às vezes podem ser mais rígidas do que em casa. O papel de todos os educadores frente aos sentimentos da criança deve ser de acolhimento, através da escuta e do diálogo e com o tempo, naturalmente a criança aprenderá a lidar com seus próprios sentimentos e posteriormente com o sentimento do outro. O que não podemos é tentar evitar ao máximo que a criança passe por situações de frustração, ou seja, pensando em resguardá-la estamos na verdade aplicando a “superproteção”. Impedir que uma criança não se frustre não é saudável, pois impediremos que ela ache formas de lidar com tais situações.
Como trabalhar a ansiedade de uma criança?
Ainda que confundida com comportamentos inadequados, birras, choro sem propósito ou teimosia, a ansiedade infantil, não pode ser negligenciada e exige atenção por parte dos adultos que cuidam da criança. É na infância que toda estrutura emocional e os valores se formam, portanto zelar pela saúde mental dos pequenos fará toda a diferença para o adulto que queremos formar no futuro. O quadro de ansiedade na infância agravou- -se na pandemia, subindo de uma para cada quatro crianças avaliadas, segundo a Organização Mundial da Saúde. A ansiedade é uma reação normal de todas as pessoas frentes a situações aparentes de perigo. Muitas vezes esse sentimento é visto como mecanismo de defesa do ser humano. A ansiedade provoca no organismo humano respostas comportamentais, cognitivas e emocionais. Existem diversos fatores que contribuem parra que a ansiedade seja desencadeada, entre eles estão: a predisposição genética, experiências traumáticas, baixa autoestima, influências ambientais (meio onde vive). A criança ansiosa passa a ter dificuldades de encarar as tarefas diárias, causando-lhe frustração, pois ainda não há maturidade para compreensão do que está acontecendo. A ansiedade infantil pode alterar o rendimento escolar, assim como ter dificuldades para reagir em situações sociais, acabando por levá-la ao isolamento. O tratamento da ansiedade infantil é essencial para dar a criança a chance de uma vida mais saudável. O diagnóstico eotratamento são feitos por profissionais especializados como psicólogos e psiquiatras. O tratamento consiste em acompanhamento psicológico, terapia cognitivo comportamental e uso de medicamentos apropriados. Crianças ansiosas precisam de acolhimento e amparo, especialmente nos momentos de crise. O adulto deve mostrar-se sempre disponível a ajudá-las. Um ponto importante está em redirecionar os estímulos diante da crise, como por exemplo, tentar distraí-la para que pense em outras coisas além daquele momento de conflito. Exercícios de respiração, também são bem-vindos, assim como frases encorajadoras: “Está tudo bem”, “Vai passar” e “Estou aqui para ajudar”.
Como trabalhar com uma criança que sofre bullying na escola?
Conversar com a criança vai permitir que ela expresse seus sentimentos em relação às agressões e ameaças que sofre. Devemos evitar críticas e não amenizar o problema. As crianças precisam ser ouvidas e os fatos precisam ser relatados a um responsável na escola para tomar providências. O bullying atrapalha o desenvolvimento infantil. Os pais podem ajudar demonstrando que o lar é um ambiente seguro para compartilhar os sentimentos. Se a criança é quem pratica o bullying o caminho também deve ser o de acolhimento, para que ocorra mudança de atitude. Tratar a criança que sofre como vítima e não tratar o praticante, não resolve o problema. Ambos precisam de ajuda para criar empatia, respeito e resiliência.
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