ARTIGO

Desmame

Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

O desmame é um processo natural na vida das mães e seus pequenos, porém existem casos onde uma das partes ou ambas apresentam dificuldade no enfrentamento para encerrar esse ciclo. O desmame, tanto quanto a amamentação é um momento marcante na relação mãe-bebê, esse processo promove importantes repercussões na subjetividade da criança, bem como efeitos estruturantes no psiquismo das crianças e suas genitoras.

Assim como demais etapas do desenvolvimento infantil, o desmame pode ser difícil e cada criança tende a reagir a sua maneira, algumas ficam mais irritadas, manhosas e agitadas. E com as mães não são diferentes, algumas se recriminam, sentem culpa e têm pensamentos negativos sobre si mesmas. O papel do psicólogo consiste principalmente em auxiliar a mãe atuando nos aspectos emocionais no decorrer desse processo, para que esse momento seja conduzido de uma maneira gentil e gradual, evitando desta forma traumas e arrependimentos no futuro.

Vale abordarmos que a gravidez e pós-parto são fases consideradas auges do desenvolvimento psicossexual da mulher, e a amamentação é o momento que fecha esse ciclo, validando a identidade feminina. A amamentação pode ser experiênciada como o fim da fase profunda e intima entre mãe e bebê, podendo favorecer sentimentos de desproteção, medos e fraquezas, que podem aflorar questões psíquicas não resolvidas, impedindo para que o desmame possa ser realizado de maneira saudável.

Algumas mães além do prazer experenciam uma conexão profunda com o bebê, e devido a isso se sentem inseguras quando pensam no desmame, fantasiando que perderão o vinculo especial com seu bebê. E esse vinculo todo especial não deixará de existir, porém será reformulado com novas maneiras de se relacionar, possibilidade novas conexões de afeto. Mediante as dificuldades evidenciadas, cabe ao psicólogo auxiliar a mãe a refletir sobre os motivos que estimulam a dificuldade e medo de encerrar o ciclo da amamentação de forma saudável. Tanto o prolongamento da amamentação quanto o desmame precoce são influenciados por diversos aspectos, biológicos, histórico-culturais, econômicos e condições inconscientes e conscientes da vida humana.

Então o desmame precoce pode estar relacionado a dificuldades de vínculos na relação mãe-bebê e na constituição da maternidade, enquanto que o desmame tardio pode estar relacionado ao excesso psicoafetivo materno, revelando dificuldades na entrada de terceiros na relação mãe-bebê. Com o prolongamento da amamentação pode ocorrer à protelação da castração oral, dificultando a dimensão paterna enquanto terceiro, bem como a manutenção da relação corpo a corpo da mãe com o bebê, sem mediação pela linguagem.

Quando pensar no processo do inicio do desmame conversar com o bebê pode ajudar, pode parecer que o os pequenos não entendem, mas para a mãe, o fato de explicar para o filho a nova situação pode ser tranqüilizante e será transmitido  essa calma para o bebê. É interessante que o desmame aconteça aos poucos reduzindo a quantidade de mamadas e o tempo utilizado. Nesse momento envolver o pai e outras pessoas na rede de apoio pode ser significativo, pois podem ajudar oferecer a mamadeira e outros alimentos no lugar da mãe, já que o cheiro do leite pode agitar o bebê e dificultar o processo do desmame.

É natural que o bebe chore e até rejeite a mamadeira no inicio. Vale evidenciar que o bebê não mama somente quando está com fome, ele também pede pelo peito materno quando está com sono, irritado, com medo, quando precisa de atenção e de acolhimento, sendo assim a mãe precisa ficar atenta para encontrar novas formas de acalmar o filho, dando colo, abraços, carinho ou brincar como maneiras de satisfazer suas necessidades, facilitando o encerramento desse ciclo de modo harmônico e saudável para ambas as partes, tornando o elo familiar fortalecido.

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