
E o nosso Jorge se foi para os braços do Senhor ao alvorecer da sexta feira. Seus pais emigraram de Beirute para o Brasil no final do século XIX, mercê das perseguições impostas aos católicos de lá, pela maioria muçulmana. Seu pai, também Simão, chegou ao Brasil em 1920, quando tínhamos pouco mais de “brimos” vivendo entre nós, especialmente no Estado de São Paulo. Como mascate, o velho Simão aportou na vizinha Capivari, casou-se com Adélia e por lá constituiu família, e criou os filhos. Entre eles, o quinto, Jorge Simão Miguel, o caçula, que nasceu em 7 de maio de 1928, quando os ponteiros da igreja matriz de São João Batista, da cidade soavam dez badaladas da manhã.
Da prole, só Jorge encontrou sua vida e profissão de fé na igreja católica, onde começou como coroinha na igreja ordenou-se padre, sucedendo dois irmãos que tentaram o mesmo caminho. Ele tinha 15 nos e foi encaminhado ao Seminário Diocesano de Campinas, onde efetuou os seus estudos. Entre seus professores, d. Aniger Francisco Maria Melilo, que anos depois viria a tornar-se bispo em Piracicaba e acolheu um dos seus mais brilhantes alunos, Jorge. Depois de 13 anos de estudos foi ordenado padre em Piracicaba no dia 8 de dezembro de 1955, dia consagrado da Nossa Senhora da Imaculada Conceição, que se tornou, mais adiante, sua casa pastoral e sua referência para os moradores de Vila Rezende e de inúmeros outros bairros da cidade. Da pequena capela no bairro, transformou-a em uma grande igreja. Em 6 de dezembro de 1960, foi consagrado pároco da igreja.
Um pouco depois noutro 8 de dezembro, mas de 1969, até o final de 2002, trabalhou na paróquia coo vigário. Depois, recebeu o título de “Monsenhor Prelado de honra de Sua Santidade” em 22 de janeiro de 1981 pelos seus 25 nos de sacerdócio naquele local. O título de Monsenhor vem da igreja católica a partir de 1303 da idade moderna.
Mas o nosso Jorge notabilizou-se também como concorrente de Santo Antonio, o designado Santo Casamenteiro, na tradição da igreja católica., segundo registros na cúria diocesana local, entre 1956 até 2019, ele oficializou 9.666 casamentos. Entre outros realizados em outras paróquias e cidades, pelos inúmeros amigos que conquistou durante a sua trajetória. Dentre eles, em especial, o do meu grande amigo José Coral, com dona Sonia Guastalli Coral. Coral me segredou dia desses, que em certa ocasião, quando se realizava uma festa em frente a antiga capela, Jorge lhe disse “tem uma tempestade chegando aí bem perto de você...corre atrás”. A tempestade tinha por nome Sonia Guastalli. E o santo casamenteiro oficializou o casamento dos filhos do casal, o batizado dos netos e, mais recentemente o casamento de uma das netas. Coral e d. Sonia que celebraram recentemente 50 aos de feliz união conjugal. Graças ao “empurrãozinho” nosso inestimado Monsenhor.
Minha única divergência com o amigo Monsenhor era o seu corintianismo exacerbado pois, agora lá no céu, terá tempo suficiente para conversar com o ex presidente corintiano, Vicente Matheus, que os deixou numa fila interminável de mais de 20 anos sem títulos no futebol paulista, por causa de um tal de Pelé. Entre outras tantas boas conversas que poderá ter com seus pais, irmãos, familiares milhares de amigos que certamente, deixou em Piracicaba na madrugada desta sexta-feira. Que o Senhor nosso Deus o acolha, em sua infinita bondade, e lhe reserve um bom espaço lá no céu, para que, com sua enorme alegria, continue a fazer o bem. Para os que nessa Terra se beneficiaram com a sua bondade, generosidade e sabedoria.
--------------
Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.