ARTIGO

Sono, sonho e sonambulismo

Por Ana Carolina Carvalho Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

É comum indivíduos que sofrem de sonambulismo buscarem por respostas ou tratamento, visando melhorar a qualidade do sono. Freud pouco abordou sobre o sonambulismo, porém pode ser compreendido como parte da vida onírica, mas um sonho do qual muito curiosamente o sujeito não se recorda, por outro lado ele atua (sonambulismo) durante o sonho na realidade inconsciente do sujeito que experiência, desta forma o sonho falha parcialmente na sua função de inibir a ação e substitui-la com a realização fantasiatica do desejo, e faz com que essa realização aconteça na realidade, semelhante aos atos falhos, sem interromper o sono.

Talvez o desejo reprimido e satisfeito em tal sonho tenha sido exatamente recalcado, mas foracluído (sonambulismo guarda similitudes com o delírio, a alucinação e o apragmatismo de psicóticos) ou desconstruindo, os atos sonâmbulos são em parte psicopáticos ou sociopaticos, e a alegação de que o sujeito não se lembra deles parece ser totalmente verdadeira para a consciência embora não verdadeira para o inconsciente, como um jogo de fetiche para o psiquismo.

Como Freud alerta, é difícil conjecturar mais sobre sonambulismo do ponto de vista do inconsciente porque esses episódios somente chegam na clínica para a escuta em segunda mão; alguém contou ao psicanalisando que ele cometeu tais atos, dos quais certamente não se lembra sequer no sentindo de tê-los recalcado, antes foraconcluiu ou desmentiu, como citado acima. Assim o sonho convida o sonhador para uma viagem ao viver criativo, que emerge por desfocalização da atenção, reconfigurando sentidos. Quanto mais avançamos a viagem do sonho, mas nos dirigimos ao território do informe e da solidão existencial.

No entanto no sonho quando não somos o protagonista e apenas assistimos as situações, ainda refere –se a nós mesmos. Lembre-se de quem criou o sonho, mas porque será que a inteligência maior inventou algo representado em outra pessoa e não nós mesmos, talvez seja porque não estamos preparados para saber conteúdos sobre nós mesmos, então o psíquico como forma de proteção coloca outros personagens para que possa ocorrer uma análise do sonho.

Desta maneira o psíquico facilita para o sujeito, porém ao mesmo tempo gera uma aproximação a problemática. Se levarmos em consideração que o sonho possa ser um recado do inconsciente, sobre as coisas que deveríamos saber (sabemos e não sabemos que sabemos) se mostra sem verbo além do seu recado ser simbólico, então o outro e a situação sonhada pode sim nos representar. Devido a isso a análise do sonho pode parecer um pouco confusa, mas se houver articulação mental, podemos entender e interpretar os sonhos. No caso de haver outro protagonista exercendo uma atividade, construía a consciência que se trata de ”ser” você aquele do sonho, apenas não foi representado por barreiras mentais, quebre-se afirmando ‘’sou eu o protagonista e aquilo que assisti refere-se a mim’’.

Quando o indivíduo constrói essa consciência é bem provável que o próximo sonho possa proporcionar o mesmo conteúdo ou um conteúdo semelhante, agora sendo você o protagonista, e assim se inicia a melhor conversa que alguém pode experimentar, você com você mesmo, e assim é possível elaborar traumas e é muito desvendador descobrir que as respostas estão dentro de você mesmo, e assim analisar os sonhos, que é essencial se alguém quiser de forma definitiva se desvendar.

E desta maneira a clínica psicanalítica abrange uma imensidão de possibilidades para os indivíduos que estabelecem através da relação com o dormir, e o sonhar com a ação ou sem a ação do sonambulismo, a ressignificação dos seus conteúdos. Porém nos casos de sonambulismo vale procurar também estar amparado por tratamento e ou acompanhamento médico.

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