É possível haver um estadista em nível municipal? A resposta é simples: sim, é possível. Mas isso depende, basicamente, de decisões políticas que contem com a participação e vontade das comunidades. Um estadista é um homem de Estado preparado para a arte de governar. E, também, alguém que exerce a liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias.
Piracicaba conheceu esse estadista que surgiu do consenso popular, da movimentação das classes sociais e instituições. Foi na década de 1950. O homem que as entidades, as sociedades de classe foram buscar na iniciativa privada: Luciano Guidotti. Ele nunca se envolvera em política, não tinha estudos avançados e se destacava, na vida privada, por uma visão social e progressista extraordinária. Era um intuitivo com liderança especial, capaz de cercar-se de assessores competentes, de ouvir opiniões, mas sem abrir mão de sua decisão final. Ele, muitas vezes, decidia pelo que parecia inviável mas que, ao depois, se revelava a opção certa.
Vivemos, atualmente, uma transformação universal desafiadora. Teríamos que entender serem, as iniciativas mais urgentes, as mais próximas de nós. “Pensar globalmente, agir localmente” – é a fórmula. Piracicaba enfrenta problemas locais que exigem ações locais, já se mostrando inútil aguardar ações de outras esferas. Piracicaba precisa de um novo pacto social que fuja a ramerrões ideológicos e fórmulas desgastadas. E, no entender deste jornalista, estamos sendo chamados a um retorno. E retorno não é retrocesso. Retorno é voltar-se às fontes geradoras, às raízes, inspiradoras das transformações necessárias.
Referir-me a novo pacto e a retorno, remete-me à genialidade de Franklin Rossevelt, com o seu “New Deal”, o contrato que, alterando convicções antigas e superadas, transformou os Estados Unidos e inspirou o mundo. O novo pacto propõe a ação mais vigorosa do Estado, em nosso caso, do município. Agir em atenção aos verdadeiramente necessitados, os que estão no abandono. Criar obras, emprego provisórios, agir emergencialmente, irrigar a imaginação de esperança, recuperar a sabedoria de Keynes na ordem econômica.
O que e como fazer? Que o Prefeito e a Câmara convoquem a sociedade para a busca de uma radiografia sócio-econômica de Piracicaba. Que se busquem soluções provisórias urgentíssimas para devolver a dignidade aos que estão nas ruas, nas praças, desesperançados e desassistidos. Ideias e propostas exequíveis haverão de surgir, incluindo Parcerias Público/Privadas.
Por que não pintar as guias das sarjetas de toda a cidade? Há um exército de desempregados que poderiam, emergencialmente, ser contratados, por que não? Analisemos: a Prefeitura liberou uma verba de cerca de 1.800.000 reais para a absurda mudança da pinacoteca. Na simples hipótese de pintura de sarjetas, quantas pessoas desassistidas poderiam ser contratadas emergencial e provisoriamente, com o auxílio, digamos, de mil reais?
Pintar sarjetas, fazer hortas comunitárias em terrenos vazios, formar jardins, criar serviços, iniciativas emergenciais e provisórias – esse seria o “New Deal” caipira. Urge, pois, o despertar de uma consciência mais sólida e generosa de comunidade. Esse retorno benfazejo seria inspiração para retomarmos ações que, antes, transformaram a sociedade. Que voltemos, os comunicadores sociais, a ser “Voz dos que não têm voz.” E que a população retome a consciência esquecida: a opção preferencial é pelos pobres. Nosso “New Deal”.
A hora angustiante não é a de ensinar a pescar. É a de dar o peixe para o faminto.
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