Tempos de Guerra entre Rússia e Ucrânia

Por Ana Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

Há tempos, quando a população mundial estava recuperando –se da primeira guerra mundial e da pandemia da gripe espanhola, uma parcela considerável da população acreditava que a paz aconteceria, porém não se esperava que em aproximadamente uma década o mundo seria surpreendido pela segunda guerra mundial. E na atualidade o que esperar diante da invasão Russa na Ucrânia, ainda em tempos que o “mundo” se recupera da pandemia? Alguma semelhança com o passado?
Freud, o pai da psicanalise teve a oportunidade de escrever uma carta para Einstein abordando sobre o funcionamento do aparelho psíquico, e na época acreditava em suas reflexões sem otimismo, abordando que os instintos agressivos humanos herdados das nossas origens, junto as feras, é inerente e fundamental para nossa sobrevivência, e tendemos sempre a recorrer a violência como resposta a determinados estímulos. Ainda na visão de Freud o desenvolvimento da nossa cultura possibilitou o deslocamento do poder, tornando-se obsoleto o campo da violência e migrando para o campo do direito, pautando –se na lei, nos acordos.
Então, o poder desloca dos mais fortes, para a coletividade, intimidando que os mais fortes retomem a tirania. Porém o desenvolvimento da cultura não sustenta a eliminação do lado violento do ser humano, mesmo com as conquistas evolutivas da nossa espécie, que possibilitou formatos mais adequados para lidarmos com a violência.
Com as conquistas através do avanço da civilização, melhoramos a capacidade de resolvermos as diferenças dialogando, com a opção da não utilização da força bruta, porém nem sempre é possível de maneira pacifica resolver os conflitos, e ao desencadear uma guerra é possível identificar a expressão de uma repressão psíquica civilizatória, ética e também estética. E essa guerra desencadeada na Ucrânia pode estar associada ao descuido de como a civilização trata das questões fundamentais para os seres humanos.
É possível evidenciar esse momento pelo esgotamento emocional que a pandemia do coronavírus desencadeou na população mundial, associada aos demais conflitos que vivenciamos diariamente em nossa sociedade, com exemplos de genocídio, preconceito, assassinato, fome, desemprego. Essas questões nos lembram nossa cruel realidade, e que a vida humana está em plano secundário. Nosso corpo não tolera brutalidade de guerra, e assim todos os indivíduos tem razões suficientes para preferirem soluções pacificas.
0Conflitos brutais ameaçam nossa existência e mesmo que o corpo físico consiga sobreviver, os danos psicológicos se instalarão e o psíquico padecerá. Embora os instintos agressivos na raça humana não tenham se extinguido através da evolução cultural, não há justificativas para guerras somente porque apresentamos tendências a agressividade, pois essas tendências precisam ser adestradas, e para isso necessitamos no decorrer da nossa existência reafirmar os princípios da vida.
Esse período conturbado e instável para o mundo, está gerando imenso desconforto nos indivíduos, e as consequências se estenderão para muito além das questões econômicas, geopolíticas, sociais e culturais, vão promover fortes impactos e gravidade na saúde psicológica em múltiplos níveis e com repercussões que serão duradouras, não apenas nos indivíduos afetados diretamente, mas em toda a sociedade, que ainda vivem os efeitos nefastos promovidos pela pandemia, os quais envolvem principalmente o sofrimento psicológico, o desanimo e a apatia, além de promover traumas e revolta e o sentimento de desmoralização em um plano alargado do clima social e da convivência com o mundo, enraizando o ressentimento e possibilidade de conflitos futuros, pois a própria guerra de informações e contra informações contribui para a percepção de falta de controle e incertezas, desestabilizando a esperança, e medo de conflitos de um passado que não queremos repetir.

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