“Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade/ nem veio nem se foi: o Erro mudou. / Temos agora outra Eternidade, / E era sempre melhor a que passou”. (Fernando Pessoa) Os grupos sociais necessitam de marcos, pontos de referências, celebrações coletivas para se manterem unidos. Os cristãos celebram o nascimento de Cristo em uma festa, que é fundamental para a cronologia do Ocidente – marca o ano um de nosso calendário. A Festa de Natal já foi em 6 de janeiro e 25 de março. O atual 25 de dezembro foi fixado em 440 d.C. Esta mudança se deu para ofuscar as datas de comemorações pagãs como: “Natalis invicti Solis”( nascimento do vitorioso Sol), festa do deus persa Mitra que rivalizava em prestígio com o cristianismo em seus primórdios. Havia ainda outras festividades decorrentes do solstício de inverno, como a Saturnalia em Roma e o culto solar entre germanos e celtas. O demorado inverno e as noites mais longas e frias de dezembro, no hemisfério norte, estimulavam sacrifícios propiciatórios e súplicas solicitando o retorno da luz do Sol. O cristianismo assumiu estas festividades apresentando Cristo como luz do mundo. A árvore de natal foi uma substituição do carvalho sagrado, ao qual, os germanos realizavam sacrifícios. O presépio foi introduzido no século XIII por São Francisco de Assis. No Brasil, o Natal é uma das festas mais populares. Seu ponto alto era a Missa do Galo à meia-noite. Atualmente, com a religiosidade em baixa, a Ceia de Natal ocupa o lugar de destaque. A maior parte da população não está em condições de ter uma ceia, quanto mais de Natal. A burguesia, sufocada pelo arrocho econômico, foi obrigada a reduzir a ostentação, aliás, nada condizente com a história do despojado nascimento de Belém. Não muito mais os muçulmanos e cristãos travam guerras sanguinolentas. Aos cristãos, bastaria ler São João o apóstolo: “Que Deus é a luz e não há nele nenhuma treva. Se dissermos que temos sociedade com ele, e andamos nas trevas, mentimos e não seguimos a verdade. [...] Aquele que diz que está na luz e aborrece o seu irmão, até agora está nas trevas. O que ama permanece na luz, e não há escândalo nele. Mas aquele que tem ódio a seus irmãos está em trevas e anda nas trevas e não sabe aonde vai: porque as trevas cegaram seus olhos”. Da mesma forma os muçulmanos ignoram o Corão, seu livro sagrado. Ele se divide em capítulos chamados de Soratas. Na quarta Sorata encontramos: “Mas aquele que, bem propositado / matar ao semelhante: esteja certo / que o remorso é uma sombra, e o resultado é que, Deus o excomungará! E aberto / está-lhe o inferno, e bem escancarado! / e um sofrimento horrendo, p’ra o acerto, / estará esperando-o para que ele pague, / na mão do Demo, com seu azorrague!”. Como se vê, não é por falta de ensinamentos que cristãos e muçulmanos se digladiam. Enquanto houver pessoas na escuridão da ignorância, não haverá paz. A ausência de paz significa guerra, ódio, matanças. No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo papa Leão III imperador do Sacro Império Romano Germânico. Ele, em apoio à sua Igreja e à sua ambição por territórios, dizimou milhares de germanos não-cristãos. Depois dele, periodicamente, tanto o Ocidente como o Oriente foram palcos de outros massacres religiosos, políticos, étnicos ou econômicos. Enquanto as trevas da ignorância e o fogo do fanatismo continuar a impedir aos homens de perceber que é absurdo seres humanos, em nome da autoridade de alguns, sejam despojados de sua honra e que as culturas são incomparáveis, ou seja, não podem ser julgadas segundo os mesmos critérios éticos e estéticos, teremos Natais tão ou mais sangrentos como este primeiro do século 21.
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