Luiza Trajano, dona do Magalu, cria movimento por vacina

Por alex rodrigues | 11/02/2021 | Tempo de leitura: 5 min

A empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, lançou um amplo movimento empresarial visando a agilização da vacinação da população brasileira contra a covid-19 como ferramenta de reativação da economia. Ao contrário de mobilizações anteriores de empresas, que tinha por objetivo a imunização de funcionários, este grupo será focado na vacinação via rede pública, respeitando os grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde.

A meta, segundo apurou a reportagem, é ajudar a reduzir os "gargalos" para agilizar a compra, o transporte, a distribuição e a aprovação de imunizantes no País, mas sem fazer aquisição direta de vacinas.

Neste momento, o grupo envolvido na criação está terminando de angariar nomes para apoiar a campanha, que terá forte movimento de divulgação, mas a intenção é que seja uma frente ampla, que incluirá empresários e entidades de classe. A ideia é pregar a vacinação de uma parte significativa da população - entre 60% e 70% - até agosto ou setembro.

Segundo apurou a reportagem, líderes de empresas como Suzano, Whirlpool e Volkswagen e Gol já teriam aderido à mobilização de Luiza Trajano. O Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), que Luiza já presidiu, também estaria no barco.

Todo o setor produtivo, de acordo com uma pessoa próxima às conversas entre os empresários, acredita que a questão da vacinação está caminhando muito lentamente no País.

O Brasil, até o fim de semana, havia vacinado 3,5 milhões de pessoas com a primeira dose dos imunizantes Coronavac e AstraZeneca. Conforme mostrou reportagem do Estadão, no ritmo em que a vacinação contra a covid-19 é conduzida atualmente, o País levaria mais de quatro anos para ter toda a sua população imunizada.

O cálculo é do microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) Luiz Gustavo de Almeida. Ele lembrou que, durante a campanha de vacinação contra a gripe, em março do ano passado, já em plena pandemia do novo coronavírus, os municípios brasileiros vacinavam até 1 milhão de pessoas por dia. Atualmente, a média de imunizações diárias é de um quinto disso, ou 200 mil pessoas.

Com a leitura do setor privado de que a vacinação no Brasil caminha em ritmo lento e com o consenso de que a imunização em larga escala é o único caminho a ser trilhado para garantir a recuperação da economia, um grupo de empresas, liderado por Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, lançou ontem o "Unidos pela Vacina". O objetivo é convocar a sociedade civil para participar do movimento pró-vacinação e pavimentar o caminho para que todos os brasileiros sejam imunizados, no máximo, até setembro.

Em tempos em que a população brasileira está cada vez mais polarizada, Luiza frisou que o movimento não tem a intenção de discutir política ou buscar culpados - 230 mil brasileiros já morreram de covid-19. "Não vamos sair comprando vacinas. O governo não precisa de dinheiro para comprar vacina. Se a necessidade fosse dinheiro, seria mais fácil. Mas podemos agilizar, com influência de nossas empresas, e ajudar a chegar vacina", disse Luiza, em coletiva de imprensa, acompanhada do sócio da EB Capital, Duda Sirotsky Melzer e da consultora Betania Tanure. "Estamos nos desafiando", afirmou.

A empresária disse que um dos esforços neste momento está no mapeamento de todas as unidades de saúde distribuídas no País, para que se possa entender os entraves. Essa "radiografia" dos municípios brasileiros, feita em parceria com o Instituto Locomotiva, estará pronta já no fim desta semana.

Segundo o Estadão apurou, o grupo também está tentando entender, com um levantamento que entrevistou 5 mil brasileiros, qual é afinal o tamanho do movimento antivacina no País. Os resultados ainda vão ser divulgados, mas os dados já mostrariam um porcentual de negacionismo relativamente baixo, ao redor de 15%.

A empresária contou que o grupo está trabalhando há cerca de um mês e já realizou, nesta semana, reunião com a fabricante russa de vacinas Sputinik. "O governo não está precisando de dinheiro para comprar a vacina, mas de formas de se conseguir trazer a vacina. O mundo inteiro quer a vacina. Nós temos empresas que estão na China, Índia, Estados Unidos e que estão querendo ajudar nessa solução", afirmou.

Grupos de trabalho

O movimento do Brasil já se organizou em grupos, cada um atacando uma frente. Um deles, que está endereçando a comunicação com o governo, é liderado pelo Marcelo Silva, presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). "Os negócios só prosperarão se eliminarmos ou diminuirmos rapidamente os efeitos da covid-19", disse. Outro objetivo é ampliar o nível de conscientização do brasileiro para a vacinação. Silva frisou que esse movimento não tem relação com o grupo anterior, que tinha como objetivo a compra direta de vacinas, em parte para imunizar seus funcionários, desrespeitando a "fila" dos grupos prioritários definidos pelo Ministério da saúde. "Não temos qualquer interesse comercial", destacou.

Outro grupo está direcionado à interlocução com os governos estaduais e, o terceiro, ao relacionamento com as prefeituras. As reuniões serão periódicas. Segundo a consultora Betania Tanure, o "Unidos pela Vacina" já tem um projeto piloto na cidade do Rio de Janeiro e em Nova Lima (MG), que servirão de "laboratório" para ações em outras partes do País.

Haverá ainda subgrupos que analisarão os entraves na cadeia produtiva. O presidente da fabricante de celulose Suzano, Walter Schalka, será responsável pelo núcleo dedicado aos insumos e vacinas. O presidente da Gol, Paulo Kakinoff, vai focar em logística e armazenamento. Cristina Riscala, do Grupo Mulheres do Brasil, vai liderar o time que monitorará a aplicação da vacinação. "Somos focados na solução, não queremos reclamar, buscar culpados, olhar para trás e sim olhar pra frente", disse Betânia.

"Não iremos comprar vacina, mas, se for necessário, poderemos pensar em transporte, logística e marketing. Nosso grande ativo não é capacidade financeira, mas capacidade de mobilização", afirmou Melzer, da EB Capital. A última reunião do movimento teve cerca de 400 participantes, entre empresários, profissionais liberais e entidades. (Colaborou Fernando Scheller)

Fonte: Agência Estado

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