Gestão da crise do covid-19 em prol dos piracicabanos II

Por Érica Gorga | 18/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O artigo “Covid-19, leitos SUS e responsabilidades”, publicado no JP do dia 14 de maio, criticou o nosso artigo “Gestão da crise do Covid-19 em prol dos piracicabanos”, publicado no dia 10 de maio.

O autor da crítica é o ilustre médico diretor do Departamento Regional de Saúde (DRS-X - Piracicaba), ou seja, o representante da política de saúde do governador do Estado de São Paulo em Piracicaba. Assim, em essência, o diretor realizou defesa explícita da política do governador e do prefeito de Piracicaba no que tange ao enfrentamento da crise do covid-19, como se tal política de saúde fosse absolutamente perfeita e não fossem possíveis quaisquer aperfeiçoamentos.

O diretor do DRS-X reconheceu seguir a orientação da Secretaria Estadual de Saúde para o enfrentamento da doença em Piracicaba, sem questionar se existem contradições nas decisões tomadas. O diretor enfatizou que “o distanciamento social seria uma das formas de evitar a proliferação viral”, mas não tocou no principal ponto do nosso artigo, qual seja: “a transferência de pacientes infectados por coronavírus para o interior vai contra a própria lógica da quarentena e isolamento decretados pelo governo estadual e endossados pela prefeitura de Piracicaba”, e, inclusive, pelo próprio DRS-X.

Aliás, o diretor não explicou por que não se poderiam adotar medidas alternativas para minimizar as hipóteses de transmissão do vírus da capital para o interior, como por exemplo, a transferência de doentes não infectados por covid-19 que estão em tratamento intensivo, para que se liberem vagas de UTI para os doentes de coronavírus da própria capital.

Também não justificou por que não se intensifica a cooperação entre os sistemas privado e público de saúde para que o sistema privado de São Paulo, ainda ocioso, possa realizar atendimentos a fim de evitar a transferência do vírus para Piracicaba. Afinal, mesmo sem a anunciada transferência, já existem médicos queridos da cidade infectados, a exemplo do Presidente da Unimed, cujo adoecimento está consternando toda a cidade. E se outras lideranças médicas e profissionais piracicabanos se infectarem?

Ao invés de responder nossos questionamentos que, aliás, são alicerçados nas opiniões de médicos consultores de saúde que questionam a política estadual implementada em Piracicaba, o diretor do DRS-X faz pergunta retórica: “O que faríamos nessa situação se a posição do Estado fosse pelo bloqueio de pacientes para São Paulo? Deixaríamos piracicabanos morrendo?” Ora, é o próprio diretor do DRS-X que deve responder à questão que formulou. Ele reconhece que “estamos vivenciando a interiorização da pandemia no Estado, com aumento acentuado do número de casos na cidade nos últimos dias”. Também explicou que, pela política do seu departamento, existem apenas 34 leitos de UTIs destinados a pacientes de coronavírus em Piracicaba.

E, mesmo nessas condições, pretende trazer doentes de São Paulo, que conta com número infinitamente maior de UTIs? O que então pretenderá fazer com os piracicabanos doentes quando as vagas de UTIs de Piracicaba estiverem lotadas de doentes paulistanos? Enviar os piracicabanos para outra cidade? Faz sentido essa política que aposta na transferência contínua de doentes por todo o estado de São Paulo como a solução para o tratamento da covid-19, uma doença contagiosa?

O diretor do DRS-X cita os exemplos da transferência de cardíacos e pacientes oncológicos, mas omite que todos esses doentes não sofrem de doença altamente contagiosa, e que a política de transferência, portanto, não deveria ser a mesma para os casos de covid-19.

É por isso, inclusive, que outros prefeitos, como o da cidade de Campinas, Jonas Donizette, estão solicitando a preservação dos leitos de sua cidade para atendimento dos doentes locais. É o que deveria estar fazendo a prefeitura de Piracicaba, para defender os interesses dos nossos munícipes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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