Em tempo de incertezas, uma coisa é indiscutível. Na escalada da disseminação do novo coronavírus pelo mundo, o Brasil deu 'sorte'. É até difícil empregar essa palavra em meio a uma pandemia que já contaminou 530 mil pessoas e já provocou mais de 24 mil mortes, mas é fato.
Na China, por exemplo, onde foi identificado o primeiro caso de Covid-19, o alerta à OMS (Organização Mundial de Saúde) foi enviado no dia 31 de dezembro. Na Coreia do Sul, os primeiros casos datam de 20 de janeiro. Nos Estados Unidos, de 22 de janeiro. Na Itália, de 31 de janeiro. No Brasil, de 26 de fevereiro.
Ou seja, o Brasil teve praticamente dois meses para observar como os demais países combatiam a doença. E se preparar. Com um detalhe importantíssimo: pudemos ver, de camarote, quais estratégias deram certo. E, principalmente, quais deram errado.
Agora, passado pouco mais de um mês do registro do primeiro caso, o Brasil discute - em um debate lançado pelo presidente Jair Bolsonaro, preocupado com as consequências econômicas - se as medidas adotadas pelos governos estaduais (o rigoroso isolamento social) são necessárias ou exageradas.
Diante desse questionamento, o que nos dizem os exemplos mundo afora? País com o maior número de mortes pelo Covid-19 até agora, a Itália relutou em adotar medidas de quarentena. Quando surgiram os primeiros casos, os governantes italianos optaram por dar mais atenção aos apelos empresariais do que às autoridades de saúde. Após milhares de vidas serem perdidas, a lamentação. Essa semana, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, se disse arrependido por ter embarcado, no fim de fevereiro, em uma campanha que dizia que a cidade não podia parar. Por outro lado, a China, que começou a adotar medidas de isolamento logo em janeiro (após, é preciso destacar, ter agido de forma negligente no início), encontra-se hoje no seleto grupo de países que conseguiram estabilizar a disseminação da doença.
Mais um exemplo importante surgiu essa semana, e logo de um país em que o governo foi duramente criticado pela população por retardar a adoção de medidas de isolamento. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi diagnosticado com Covid-19. Menos de um mês atrás, ele disse, orgulhoso, que havia visitado um hospital onde havia pacientes com o novo coronavírus e que havia apertado a mão de todo mundo. Provavelmente agora já esteja arrependido.
Resumindo: até agora, os melhores resultados foram obtidos em países que trataram um problema de saúde pública seguindo as orientações (vejam só, que surpresa) de especialistas em saúde pública. E os governantes que ignoraram isso conseguiram apenas amplificar o impacto da doença. Que rumo tomaremos aqui?.