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Artesanato hereditário: São José comemora o Dia do Figureiro

Por Paula Maria Prado@paulamariaprado |
| Tempo de leitura: 2 min
Figureiras
Figureiras

Com o barro em mãos, ela esculpia as suas peças com propriedade. Então misturava um pitada de pó xadrez para garantir ao barro aquele tom azulado tão raro. Por fim, com um graveto e um bolinha de algodão enrolada na ponta, pintava com tinta detalhe por detalhe da figura. Pronto.

O conhecimento - aqui simplificado - de um processo realizado por Maria Benedita Vieira, a Mudinha, se perdeu. A figureira, que morreu no início deste mês, não pôde passar o seu legado imaterial a alguém. Não porque ela não quisesse, mas porque ninguém se interessou em aprender.

Esse é o drama que vive as figureiras joseenses, cuja arte tão preciosa e rica corre o risco de acabar. "Somos em poucas artesãs, e temos visto cada vez mais a necessidade de realizarmos ações (vivências, exposições e roda de conversas) como uma forma de tornar cada vez mais conhecida a nossa arte", afirmou Fátima Santos, filha de Dona Lili Figureira, uma das mais conhecidas e tradicionais artistas populares do Vale do Paraíba que morreu em junho de 2015.

ARTESANATO HEREDITÁRIO.

História comum entre as artistas, todas começaram a produzir figuras ainda na infância. "Eu ia até um barranco perto de casa para pegar barro e, na falta de brinquedos, criava meus bonecos e bichinhos", contou Aurora do Carmo e Silva, 77 anos. "Eu comecei na infância e depois passei muito tempo sem fazer. Não tinha noção da importância cultural do meu trabalho", disse Maria José Oliveira, 74 anos.

"Percebo que algumas pessoas têm preconceito com essa arte, como se ela fosse menor em relação às demais. O que é um equívoco. Cada peça produzida por nós conta uma história", explicou Luciana Melo, 74 anos.

Fato é que é difícil uma criança que não goste de brincar com barro, criando seus personagens. "Mas é mais dificil quem se interesse na juventude, pesquise e venha até nós aprender a arte", lamentou Luciana.

A produção artesanal sofreu algumas mudanças com o passar dos anos. O barro já não vem mais do barranco, é comprado. E a tinta, por vezes, é guache. "Cada um tem a sua técnica. Os produtos mudaram porque os tempos são outros. Mas a forma de produção se mantém como a original. Sempre feita com o coração e da forma como nos foi ensinada por nossos pais", diz Fátima.

UNIÃO.

Com o objetivo de fortalecer os trabalhos e trocar experiências, as figureiras da cidade se uniram no coletivo "Santo de Casa". "O projeto nasceu da necessidade de darmos mais espaço para as artistas. Chegamos a ter um espaço físico, mas agora mantemos uma atuação on-line via Facebook, onde vendemos peças, divulgamos trabalhos, ações e eventos", afirmou a pesquisadora e gestora Elaine Coelho.

Além de Mudinha, a arte perdeu este ano Luiz Paulo Ragazini, em março..

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