Ideias

O MUNDO PARALELO DE BOLSONARO

Por Julio CodazziJornalista, editor-executivo de OVALE e Gazeta de Taubaté | 05/06/2021 | Tempo de leitura: 2 min

Na geometria, retas paralelas são aquelas que estão sempre à mesma distância uma da outra. Na cabeça do presidente da República, Jair Bolsonaro, a noção do paralelismo é aplicada como uma fuga da realidade: se o que está posto não agrada, ele cria uma estrutura paralela, para que sua vontade prevaleça. Parece até uma criança mimada que leva a bola embora se não vence a brincadeira, ou que muda as regras se não ganha o jogo. Mas, normalmente, essas crianças adquirem hábitos melhores logo nos primeiros anos de vida, ainda antes de aprenderem geometria.

O exemplo mais debatido atualmente é o tal do gabinete paralelo criado para aconselhar o presidente durante a pandemia. Foi a solução adotada por Bolsonaro para driblar os dois primeiros ministros da Saúde de seu governo, Henrique Mandetta e Nelson Teich, que insistiam - veja só - em adotar medidas técnicas para combater o vírus, como isolamento social e testagem em massa. Formado por pessoas com ideias delirantes, como o deputado Osmar Terra e a médica Nise Yamaguchi, o gabinete paralelo ajudou o presidente a conduzir o Brasil para o caos em que vivemos hoje, com vacinação atrasada e mais de 469 mil mortes.

Mas esse não é o único caso do paralelismo de Bolsonaro. No fim do ano passado, quando havia um risco de adversários políticos serem eleitos os novos presidentes da Câmara e do Senado, Bolsonaro criou o orçamento paralelo, que destinou R$ 3 bilhões em emendas para parlamentares aliados.

Outro exemplo está nos diversos relatos, desde o início do governo, sobre a vontade do presidente e de seus filhos de criar uma Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela, que seria utilizada para montagem de dossiês e para atacar adversários. Uma ideia que ainda não foi abandonada, como ficou evidente no mês passado, na licitação para a compra de uma ferramenta de espionagem.

Durante sua trajetória política, mesmo antes de chegar ao Palácio do Planalto, Bolsonaro sempre demonstrou apreço por outro paralelo - no caso, um poder paralelo -, as milícias. Em 2003, por exemplo, o então deputado federal usou as tribunas da Câmara para elogiar um grupo de extermínio que agia na Bahia. "Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo", disse na ocasião. Em 2008, elogiou a atuação das milícias no Rio de Janeiro e criticou o CPI que as investigou. Isso sem falar em diversas homenagens a milicianos feitas por ele ou pelos filhos.

Na geometria, as retas paralelas nunca se cruzam. O problema é que, no bolsonarismo, as estruturas paralelas não apenas se cruzam com a realidade, mas causam um enorme estrago quando isso acontece..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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