Além de ceder à Prefeitura 13 (um morreu depois, restando 12) dos 21 motoristas, Boanerge também transferiu 12 dos 20 veículos. Assim, com oito motoristas e oito carros, a Câmara funcionou, sem problemas, nos anos de 2019 e 2020.

Como as viagens haviam ficado cada vez mais raras na Câmara desde julho de 2018, quando o escândalo foi revelado, o número reduzido de motoristas e veículos foi suficiente para dar conta da demanda no Legislativo. Além disso, profissionais e carros transferidos à Prefeitura, ambos pagos com dinheiro público, passaram a ter maior utilidade à sociedade, sendo empregados em ações nas áreas de saúde e de educação, por exemplo.

O fim da regalia, no entanto, incomodou vereadores envolvidos na 'Farra'. E houve um ultimato: ou Boanerge se comprometia a rescindir o convênio, ou não teria votos suficientes para se reeleger à presidência da Câmara. Sem acordo, o petebista, com nove votos, foi derrotado por Paulo Miranda, que teve 10 votos, em eleição realizada no último dia 1º de janeiro.

Uma das provas disso é que todos os sete vereadores envolvidos na 'Farra' que continuam na Câmara votaram em Paulo Miranda: Diego Fonseca (PSDB), Douglas Carbonne (DEM), Jessé Silva (PL), Dentinho (PSL), Nunes Coelho (Republicanos), Bobi (PSDB) e Vivi da Rádio (Republicanos). Nenhum farrista votou em Boanerge.

O retorno dos motoristas à Câmara, marcado para essa segunda-feira, é apenas o (re)começo. Afinal, o Legislativo ficará com 20 profissionais para trabalhar em oito veículos, em uma conta que não fecha. A primeira ideia será pedir para a Prefeitura a devolução dos 12 carros transferidos em 2019. Caso isso não seja possível, a Câmara pretende alugar 12 veículos. Ou seja, mais gasto público à vista.

O escândalo da 'Farra das Viagens' revelou as entranhas de uma Câmara viciada, despreocupada em dar um destino correto ao dinheiro do contribuinte. Infelizmente, alguns vereadores parecem não ter aprendido a lição. E muitos dos eleitores também..