Júlia Mari

Tesouros Arquitetônicos: Complexo da CTI

Por Júlia Mari - Arquiteta pela Universidade de Taubaté | 13/05/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Colagem digital gerador da quadra D
Colagem digital gerador da quadra D

Na série Tesouros Arquitetônicos desse mês, daremos espaço para contar um pouquinho sobre a maior indústria têxtil da América Latina do começo do Século XX, o Completo da CTI localizada no coração de Taubaté e que hoje abriga, em uma de suas construções, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Taubaté e que, particularmente, guardo muitas lembranças bonitas de lá.

Vocês têm ideia da importância do complexo da CTI no desenvolvimento da cidade e da nossa região? Bom, então continua lendo e saiba um pouquinho sobre esse nosso tesouro no meio da cidade.

Completo da CTI

Estilo: Construção fabril de tijolo à vista. Influência europeia.
Ano: 4 de maio de 1891

O pernambucano Rodrigo Nazareth, ex-colega de seminário de Felix Guisard foi quem o convenceu a instalar a CTI na cidade de Taubaté. Nazareth era o presidente do Banco Popular de Taubaté e garantiu a Guisard que ele encontraria investidores e recursos para a fábrica.

Foi, então, que em 4 de maio de 1891, Félix Guisard fundou a Companhia Taubaté Industrial (CTI), para produção de meias e camisas de algodão. Após 7 anos da abertura, em 1898 um incêndio destruiu parte das máquinas e do edifício, porém a empresa conseguiu se reestruturar e em 1903, passou a produzir tecidos lisos, brins e toalhas, produtos que eram de grande consumo na época.

A partir de então, a fábrica desenvolveu-se e expandiu suas instalações em uma área de aproximadamente 75.000 m². Em 1910 foi construída a segunda fábrica da CTI, com teares manuais para a produção do morim “Ave Maria”, que se tornou o principal produto. Após 2 anos, foi implantada a terceira fábrica, com teares para a confecção de cretones.

O complexo industrial ocupava oito terrenos com três prédios fabris e dois prédios administrativos e sociais, todos construídos segundo o modelo arquitetônico industrial adotado na Europa no final do séc. XIX e início do séc. XX.

As três fábricas chegaram a manter empregados mais de 2 mil operários, produzindo, anualmente, cerca de dez milhões de metros de tecidos de algodão, que eram vendidos para todos os Estados do Brasil e até mesmo exportados para os Estados Unidos. 

No ano de 1929, a CTI. foi afetada pela crise econômica mundial com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Os trabalhadores concordaram em trabalhar 2 horas a mais por dia sem remuneração extra para que a empresa saldasse as dívidas da época.

Após a superação da crise, a CTI viveu sua melhor fase durante a Segunda Guerra Mundial e empregou cerca de 2.400 pessoas. A indústria se destacou pela América Latina pela qualidade do produto têxtil que exportava.

A Companhia funcionou até 1983, quando paralisou definitivamente suas atividades por consequência da falência da Companhia de Tecidos Nova América, empresa que havia adquirido controle sobre a CTI em 1970.

Seu maquinário foi vendido, suas instalações desapropriadas, o que resultou em abandono de alguns prédios importantes como patrimônio histórico e cultural da cidade de Taubaté.

Como um símbolo da resistência, a partir de 1991 o edifício da “Quadra E” da antiga CTI passou a abrigar o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UNITAU, resultado de um esforço coletivo dos alunos, professores, Universidade e Prefeitura da época.

O símbolo taubateano

Na década de 30, foi concebido o edifício que recebeu o nome do seu fundador “Edifício Félix Guisard”, conhecido popularmente como Torre do Relógio, a torre com 10 andares e com um relógio no topo se tornou um símbolo da cidade, assim como a sirene que permanece ecoando pelas ruas como um marco do período têxtil e da revolução industrial, que mudou o cenário econômico de Taubaté.

Seu principal objetivo era ser o escritório da CTI. A torre do relógio foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), e em parte do edifício funciona o departamento de Ação Social da Prefeitura.

A série “Tesouros Arquitetônicos” também vem com o intuito de fazer com que vocês, leitores, visitem e valorizem esses espaços que fazem parte das nossas cidades.

Mas e aí pessoal? O que acharam da história do Complexo da CTI? Espero que tenham gostado e conhecido um pedacinho da nossa história, e semana que vem estaremos de volta para falar sobre o mundo da Arquitetura e Decor. Até mais! 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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