Vocês conseguem reconhecer um piso igual ao da imagem acima? Para mim, particularmente, tem um senso de afetividade e nostalgia quando passo perto de alguma casa com essa tipologia de piso e acredito que para muitas pessoas também. São os famosos pisos de caquinhos que ganharam popularidade e viraram uma mania paulistana na década de 40. Mas você sabe a irreverente história por trás dessa pavimentação?
Entre 1940 e 1950, a cidade de São Paulo contava com duas fábricas de cerâmicas principais que forneciam um tipo de peça de cerâmica quadrada geralmente com medidas de 20x20cm e que na maioria das vezes eram tingidas na cor vermelha, mais barata na época, mas também fabricadas nas cores amarela e preta, e que eram utilizadas como piso em casas de classe média e também em áreas comerciais. Bom, até aqui nada de surpreendente, certo? Mas é no processo de fabricação dessas peças que começou a magia.
Na época, o sistema de produção das peças ainda era de baixa performance e uma grande porcentagem dessas lajotas acabavam trincando ou quebrando, esses cacos eram descartados e enterrados em grandes buracos, pois não serviam para serem utilizados e para cumprir o papel de sofisticação que as peças inteiras tinham. E diferente das classes médias que tinha o poder de comprar tais peças de cerâmica, os operários dessas indústrias e as classes mais baixas recorriam ao piso cimentado em suas casas, forma mais barata, sem nenhum tipo de ornamento, beleza e predominantemente cinza.
Até que um operário que reformava sua casa conseguiu mudar essa situação e criar uma pavimentação que se transformou em um símbolo de casas paulistanas. Ele pediu a permissão para utilizar as peças quebradas em sua reforma e a empresa, por sua vez, prontamente aceitou, pois eram apenas resíduos.
Então, o operário revestiu seu quintal transformando o piso quase que em um mosaico e logo chamou atenção dos vizinhos e de quem passava perto da casa. Esse processo, chamado de catação passou a ser permitido e se popularizou entre os funcionários das fábricas, e aquelas peças quebradas que antes eram descartadas, começaram a ser utilizadas e dar cor às casas das classes mais baixas.
Em pouco tempo essa nova forma de pavimentação virou moda também entre a classe média. Os cacos se transformaram no principal produto e ainda começaram a ser vendidos mais caros que as peças inteiras, então as peças começaram a ser quebradas propositalmente para serem vendidas em cacos de diversos tamanhos e contendo trincas.
Essa moda resistiu até a década de 60 quando começaram a surgir condomínios e a classe média passou a migrar para esses prédios, começando um outro ciclo onde os caquinhos de cerâmica já não faziam mais parte.
E virou tendência no mundo de hoje...
Esse movimento foi tão forte e tão importante que até hoje podemos encontrar o uso deste tipo de revestimento em projetos contemporâneos, tanto em fachadas como no interior dos projetos, criando uma atmosfera com identidade brasileira e alegre, como nas imagens abaixo.
As sobras viraram arte e o que era considerado algo negativo e sem valor comercial virou febre e passou a ser mais caro que o produto em si. Parece até um pouco contraditório, né?
Mas até hoje é um marco da época e nos emana sentimentos nostálgicos ao passar por um quintal com caquinhos de cerâmica. Espero que tenham gostado de saber um pouco mais sobre essa história que também faz parte da nossa própria e que marcou duas décadas inteiras. Semana que vem nos vemos com mais dicas e curiosidades sobre o mundo da arquitetura e decor. Até lá!