O Flamengo bicampeão da Libertadores e campeão brasileiro mudou o paradigma de avaliação do futebol brasileiro e provocou sucessivas crises nos times acostumados a disputar títulos com a tática do medo. O jogo por uma bola. Ou o campeonato por uma disputa de pênaltis. A filosofia que triunfou no Brasil após a tragédia do Sarriá, em 1982, mesmo com a conquista de duas Copas do Mundo.
É com doce saudade que me recordo das Copas do Mundo passadas nas redações de jornal, quando eu me propunha a torcer "contra" a mediocridade da seleção brasileira e exasperava meus colegas de trabalho. Nos dias de jogo da seleção canarinho, então, a torcida "contra" soava como provocação.
O tempo passou e a situação foi só piorando, até chegarmos aos 7 a 1 e, depois, à seleção do técnico que fala javanês (ou Titerês, dá no mesmo) e toma bailes seguidos de futebol.
O futebol do medo e da mediocridade pode voltar a triunfar. Sabemos agora, no entanto, que há outro caminho. E que a alegria e o "pio" do povo, como disse Xico Sá, deveriam ser indissociáveis do esporte nacional (que beleza ver a festa rubro-negra na favela Pavão-Pavãozinho, no Profissão Repórter).
Falar de futebol em um espaço tradicionalmente dedicado à política pode surpreender. Mas, se os políticos insistem em pegar carona no futebol, como o patético Bolsonaro e o não menos patético Witzel (obrigado pelo drible histórico Gabigol!), sugiro trilhar o caminho inverso e levar a analogia do futebol para o terreno da esfera pública política.
Vivemos o tempo do medo como arma política por excelência. Aqui nos ameaçam com o fantasma do AI-5, acolá nos assombram com a impunidade para as forças policiais (o tal excludente de ilicitude), mais além pedem para que rezemos para o dólar não disparar e a economia não degringolar de vez.
Basta!
Queremos o direito à alegria. Que é, antes de mais nada, o direito de manifestar livremente nossas opiniões e de ver respeitada a democracia. Mas também é direito a festa na favela, com oportunidades de renda e dignidade para todos..