HISTÓRIA

Há 40 anos, greve na GM em SJC teve ocupação e cerco policial

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução / Arquivo Sindicato dos Metalúrgicos de São José
Tensão chegou ao máximo no dia 27, com a tropa de choque, fortemente armada, ameaçando entrar na fábrica
Tensão chegou ao máximo no dia 27, com a tropa de choque, fortemente armada, ameaçando entrar na fábrica

Uma greve deflagrada na fábrica da montadora General Motors de São José dos Campos, em 11 de abril de 1985, deu o impulso para os trabalhadores conquistarem algo que parecia inatingível naquela época: redução da jornada de trabalho.

Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp.

A ditadura militar chegava ao fim e começava a transição para o período de redemocratização do Brasil, a chamada Nova República.

O movimento grevista mostrou força no Vale do Paraíba naquela época. Há quatro décadas, cerca de 16 mil metalúrgicos atenderam ao comando de greve feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. O movimento exigia reajuste salarial e redução da jornada de 48 para 40 horas semanais, segundo a entidade.

A greve atingiu diversas empresas, entre elas a Philips e a Bundy (atual TI Automotive), mas foram os trabalhadores da General Motors de São José dos Campos os protagonistas do movimento, que durou 28 dias na fábrica.

No início, a greve era realizada pelo sistema de revezamento, acompanhando o horário dos turnos. O cenário mudou quando, no dia 25 de abril, a GM anunciou a demissão de 93 trabalhadores por justa causa, todos eles membros de Comissão de Fábrica, cipeiros, diretores do sindicato e ativistas.

As demissões levaram ao endurecimento por parte dos trabalhadores, que decidiram ocupar a fábrica e passaram a controlar todos os setores da GM, incluindo portaria, segurança e sistema de comunicação.

Durante todo o período, a fábrica ficou cercada por centenas de policiais, que ameaçavam invadir o local. Mesmo assim, os trabalhadores mantiveram-se firmes, inclusive com apoio dos familiares, que levavam alimentos e agasalhos para quem estava na fábrica, durante três dias.

A tensão chegou ao máximo no dia 27 com a tropa de choque, fortemente armada, ameaçando entrar na fábrica. Os metalúrgicos dentro da GM continuaram resistindo e organizando sua autodefesa. O clima de beligerância subia a cada minuto, mas a ocupação acabou sendo encerrada, sem o temido enfrentamento.

“Para se defender, começa-se a pegar barras de direção, colocar empilhadeiras e caminhões em frente aos portões, a cuidar dos postos de gasolina, enfim, preparar a resistência”, lembrou Antonio Donizete Ferreira, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, de como os trabalhadores se organizaram para enfrentar os policiais.

Ao mesmo tempo, os metalúrgicos buscavam uma saída negociada. A GM, entretanto, não queria acordo.

A greve acabou uma semana depois, em 9 de maio. Depois de forte repressão e abertura de inquérito policial, segundo o sindicato, 33 trabalhadores foram indiciados criminalmente e outros 400 demitidos.

Lideranças da greve e trabalhadores comuns tiveram seus nomes incluídos em uma “lista suja” enviada ao SNI (Serviço Nacional de Informações) da ditadura e a empresas da região. Marcados como “subversivos”, não conseguiam emprego em outros locais. A reparação só veio em 2008, com a concessão de anistia política pelo Ministério da Justiça. A GM e demais fábricas até hoje não foram punidas.

Redução da jornada.

Mesmo sem uma vitória imediata, a mobilização dos trabalhadores em São José abriu caminho para conquistas. Em setembro de 1985, a jornada na GM foi reduzida para 45 horas semanais. Em 1987, o sindicato negociou a diminuição para 44 horas para toda a categoria.

Já em 1988, a redução da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais foi incorporada à Constituição, representando uma das mais significativas vitórias do movimento sindical brasileiro. “Os trabalhadores da GM, sem dúvida, contribuíram muito para isso”, disse Valmir Mariano, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

No ano 2000, o sindicato seguiu o processo e a GM adotou jornada de 40 horas semanais.

“Esse retrospecto comprova que é possível conquistar direitos que podem parecer, num primeiro momento, inatingíveis. Hoje, o Sindicato mantém a mobilização pela redução da jornada de trabalho sem prejuízo salarial. Também defende o fim da escala de trabalho no modelo 6x1, faceta mais atual da precarização a que a classe trabalhadora é submetida”, afirmou Mariano.

Procurada, a GM informou que não vai comentar.

Comentários

Comentários