O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não reconhece o setor do agronegócio e tem dificuldade em dialogar com o segmento.
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“Lula não reconhece o setor, não vê a importância do setor, fica conversando e valorizando o movimento de baderneiros. Movimentos sociais que de social não tem nada”, disse Piai em entrevista exclusiva a OVALE, direto da redação do veículo, em São José dos Campos.
Ele também responsabiliza a política econômica e fiscal e os gastos do governo federal pelo aumento dos preços dos alimentos.
“O governo federal não tem responsabilidade fiscal, um governo gastador, que teve recorde de arrecadação no ano passado e, mesmo assim, está com um rombo fiscal gigantesco, isso está pressionando muito a nossa inflação”, afirmou.
Piai esteve no Vale do Paraíba na última semana para participar do meeting especial sobre o agronegócio promovido por OVALE, na noite de terça-feira (18), em São José dos Campos. Na ocasião, o secretário se reuniu com um grupo de 30 dos principais empresários, autoridades e líderes da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba).
Confira trechos da entrevista com o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Porque os alimentos estão caros no estado?
Bom, em São Paulo a gente fez a lição de casa, o governador renovou 100% dos benefícios fiscais de todas as cadeias do agronegócio, uns R$ 130 bilhões de faturamento, essas 17 cadeias que ele renovou 100%, zerou o ICMS de vários itens da cesta básica. Um governador que está enxugando a máquina, fazendo reforma administrativa, diminuindo os cargos comissionados, que tem responsabilidade fiscal, para que o alimento chegue mais barato na mesa do paulista e do brasileiro.
E também a gente fica muito feliz de ser um orgulho para o Brasil. Outros estados estão vindo ver o que São Paulo está fazendo. Já o governo federal, que não tem responsabilidade fiscal, um governo gastador, que teve recorde de arrecadação no ano passado e mesmo assim está com um rombo fiscal gigantesco, isso está pressionando muito a nossa inflação. Os nossos juros não param de subir e a inflação na mesma proporção. Então a gente tem uma dominância fiscal, os juros estão subindo e a inflação também está.
Era para ser ao contrário, quando você aumenta a taxa de juros, você tende a diminuir o consumo e diminuir a inflação. Mas como o governo não tem credibilidade nenhuma pelo rombo fiscal, está todo mundo tirando os recursos e os investimentos do Brasil e isso está desvalorizando muito a nossa moeda. O real teve uma das maiores desvalorizações da história. Você joga o dólar lá para cima e as commodities são baseadas em dólar. Com isso você aumenta o preço dos alimentos.
O produtor também produz com insumos. Os insumos são baseados em dólar. Então, aí a responsabilidade do governo federal, fiscal, com essa situação pressionada, com a desvalorização do real, com esse juros altíssimo, impagável, está fazendo o preço do alimento subir. Não é culpa do produtor, ao contrário, o produtor é vítima desse processo. Porque os preços também não estão lá grande coisa. O saco de soja hoje está R$ 120, está difícil de fechar a conta. O saco de amendoim em R$ 70, está difícil de fechar a conta. Muitas vezes o produtor vende por um preço, mas o produto chega ao mercado com outro preço, porque tem uma carga tributária muito grande envolvida. Você tem o distribuidor, depois você tem o fornecedor. Quando chega no mercado é uma outra realidade, então a culpa não é do produtor.
Agora, o que a gente precisa fazer, ao invés de ficar zerando tarifas de importação para produtos virem do exterior e você apoiar o agronegócio de fora do país, é valorizar os produtores que a gente já tem aqui. Nós temos 100 milhões de pastos degradados no Brasil para recuperar, para tornar produtivo. Nosso plano safra é insuficiente. Hoje o agro precisa de mais de R$ 1,3 trilhão para produzir. O Plano Safra é R$ 400 bilhões.
A gente viu o governo agora colocando R$ 4 bilhões no Plano Safra e R$ 12 bilhões na Lei Rouanet. Qual é a prioridade desse governo? Quem sustenta esse país? A balança comercial, o PIB, a geração de emprego é o agronegócio. E a gente fica triste de ver que ele transfere essa irresponsabilidade para as costas do produtor, para as costas da mulher e do homem do campo. Agora os preços, naturalmente, pela safra recorde que a gente tendo, vão diminuir.
E não é porque o governo federal zerou a tarifa de importação de carne, de soja, de açúcar. Nós somos o maior exportador do mundo, ninguém produz com nosso preço, nunca ninguém vai mandar esses produtos para cá. Fizeram só para falar que estão fazendo alguma coisa. Aí pediram para os governadores zerarem ICMS de itens da cesta básica, isso já acontece em muitos estados.
Então, somente para não mostrar uma total inércia e uma irresponsabilidade fiscal gigantesca, eles fizeram umas medidas que não vão dar resultado nenhum, estão enxugando o gelo e em São Paulo a gente fez totalmente diferente. Fizemos a lição de casa, fizemos a reforma administrativa, renovamos os benefícios fiscais de todas as cadeias do agro e estamos trabalhando com suporte, com crédito, com o seguro rural, valorizando o produtor e não jogando a culpa nas costas dele.
O senhor conversa com o ministro da Agricultura? Tem diálogo?
O diálogo é saudável, a gente conversa bem com o ministro, mas todas as demandas que a gente até hoje pleiteou não foram bem atendidas. A gente está pleiteando esse seguro rural mais robusto, até hoje não veio. Estamos pleiteando uma análise regionalizada das imposições da União Europeia e uma plataforma confiável que São Paulo tem condição de atender.
A gente vê que o ministro também fica numa saia justa, que é um governo federal que claramente não respeita o agronegócio, trazendo insegurança jurídica, suspendendo o Plano Safra no momento da safrinha, que é quando o produtor está se programando, jogando a responsabilidade para as costas do produtor, ele fica numa saia justa, é difícil para ele trabalhar. E um governo federal que não reconhece o produtor.
O senhor acha que o Lula, particularmente, tem dificuldade de dialogar com o agro?
Total dificuldade, não reconhece o setor, não vê a importância do setor, fica conversando e valorizando o movimento de baderneiros. Movimentos sociais que de social não tem nada, porque coloca mulheres e idosos e crianças para invadirem propriedade privada. O que é crime. É um esbulho, é contra a nossa Constituição, a propriedade privada é sagrada. A Constituição foi escrita antes de eu nascer e a gente aqui em São Paulo preza pela segurança jurídica.
Aqui não tem invasão de propriedade privada, propriedade privada é sagrada. É o segundo Carnaval que não tem o tal do Carnaval Vermelho, que não teve invasões de terra. A gente está entregando o título para todo mundo, pacificamos o Pontal do Paranapanema e título para assentado que nunca foi entregue, para o médio produtor, para o grande, não importa o tamanho da propriedade. Se ele não tiver o título para buscar crédito, para dar em garantia, ele não tem segurança para investir, sem segurança jurídica não existe crescimento econômico e prosperidade.
O Pontal que era o Pontal da pobreza hoje é uma nova fronteira agrícola. Investimento chegando, agroindústrias começando as atividades, financiamento em silo, em pivô, uma expectativa muito grande, feiras internacionais do agro sendo realizadas lá pela segurança jurídica que a gente gerou.
O senhor conversa com o com o MST? Como é que é o contato?
O Itesp tem um departamento exclusivo para conversar com movimentos sociais. Existe diálogo, as portas para o diálogo estão sempre abertas, mas não tem como um filho de produtor, neto de produtor e produtor rural que preza pela segurança jurídica e pela propriedade privada ficar mantendo o diálogo com o MST.
São muito diferentes os valores, é muito diferente o que a gente acredita, a nossa visão de mundo e eu vejo que o governo federal erra muito em priorizar esses movimentos, que a reforma agrária não deu certo que o governo federal fez. Eles criaram realmente muitos problemas sociais do campo.
Eu falo porque eu sou do Paranapanema, quem tiver a necessidade dos assentados hoje, eu vejo que pouquíssimos estão produtivos, pouquíssimos estão conseguindo ter uma vida digna. Os filhos foram todos embora do campo, porque deram um pedaço de terra e falaram: “Se vira”. Muitos morando em lona, em condições sub-humanas, sem saneamento básico. Em São Paulo a gente fez totalmente diferente.
Nós damos crédito pelo FEAP, o CDHU aprovou a construção de moradias em assentamentos, é a primeira vez da história do estado. Nós estamos dando título para o assentado, registrado em cartório. Ele não paga registro, matrícula no nome do assentado. O PPAIS, que é o programa paulistano de agricultura de interesse social, que o governo compra da agricultura familiar, eram R$ 9 milhões, nós levamos para R$ 21 milhões, vamos para R$ 40 milhões esse ano. Compra do governo da agricultura familiar. Então eles têm muitas narrativas boas, eles são craques em narrativa, mas não entregam resultado nenhum.
Você pode fazer uma pesquisa em qualquer município do estado onde tem número de assentados significativo e o governador Tarcísio é muito melhor avaliado do que o presidente Lula. No Pontal do Paranapanema, que historicamente elegia os prefeitos do PT, o PT não ganhou nenhuma prefeitura, ao contrário, os candidatos do PT tiveram uma votação vergonhosa, porque a gente realmente está dando independência para eles. Esses assentados estão virando produtores rurais.
Nós estamos permitindo a parceria de agroindústrias com assentados. Isso está gerando prosperidade, distribuindo renda, estão feliz da vida com o nosso governo. Já os líderes dos movimentos sociais e deputados do PT não, porque esses assentados eram massa de manobra, eram votos de cabresto que eles mantinham e eles são contra essa independência. Eles não gostam desse trabalho que a gente realiza de entregar o título que é o maior sonho da vida do assentado.
Porque você tira ele de ser dependente desses movimentos sociais que de social não tem nada, são movimentos de baderneiros e tiram, e eles deixam de ser massa de manobra do Partido dos Trabalhadores.
Comentários
1 Comentários
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Mauro Vieira 24/03/2025Sr. Secretário, quem não reconhece o agro é o Senhor! Veja o descaso da Casa da Agricultura de São Bento do Sapucaí! Os funcionários não tem se quer uma impressora, totalmente abandonados! Com descaso desse e outros, como pode o produtor rural contar com os serviços da secretaria da agricultura e do governo de Tarcísio!!!!!!!