
Quem não se comunica, se trumbica.
Lapidar, a frase é um das clássicas expressões lançadas por José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), o icônico Chacrinha. Fenômeno popular, o 'Velho Guerreiro' falava a língua do povo, entendia como poucos a alma brasileira e dominava a televisão nas tardes de sábado, nos anos 80.
Alô, alô, Terezinha! Uh-uh! Agora corta para o ano de 2025.
Dia 30 de janeiro. Durante coletiva, o presidente Lula (PT) assumiu que o governo não está entregando o que prometeu. "Não se preocupe com pesquisa, o povo tem razão: a gente não tá entregando aquilo que prometeu. Então, como é que o povo vai falar bem do governo, se ele não tá entregando?". Na coxia, Sidônio Palmeira, novo ministro da Secretaria de Comunicação, se contorcia, tentando alertar o presidente sobre o potencial negativo daquele posicionamento.
Marketeiro responsável pela campanha de Lula em 2022, quando o petista derrotou o então presidente Jair Bolsonaro (PL), Sidônio assumiu a Secom em 14 de janeiro de 2025, já de olho em 2026.
A meta é alavancar a popularidade de Lula, principalmente o seu engajamento nas redes sociais, e recuperar sua popularidade, pavimentando o caminho para a reeleição. "Vai para o trono ou não vai?", diria o 'Velho Guerreiro'.
A mudança na comunicação do governo deriva do diagnóstico, do Palácio do Planalto, de que o governo é bom, mas se comunica mal. Em parte, é verdade: de fato, o governo Lula se comunica mal, não consegue nem sequer divulgar bem os seus esparsos pontos positivos. Mas não é só isso. Além de se comunicar mal, o governo também vai mal. Não é só como o governo fala, mas o que ele diz.
Conhecido até entre os adversários por habilidade política, por falar a língua do povo, Lula está desconectado dos anseios da sociedade brasileira, que está sofrendo com a alta no preço dos alimentos.
No último dia 6, em entrevista a uma rádio, Lula mostrou, mais uma vez, o seu distanciamento da realidade, jogando no colo da oposição mais um meme com potencial avassalador. O presidente, em resumo, disse que se o preço dos alimentos está caro, a solução é não comprar.
“Tenho dito que uma das pessoas mais importantes para a gente controlar os preços é o próprio povo. Se você vai num mercado aí em Salvador e você desconfia que tal produto está caro, você não compra”, disse Lula, deixando claro para Sidônio que a língua presidencial é um dos desafios para a comunicação do governo.
Quando abre a boca, o governo parece adepto do lema "eu não vim pra explicar. Vim para confundir".
Claudicante e errático, o governo corre o risco, ao final de 2026, de repetir um outro conhecido lema entoado na TV pelo velho Chacrinha: "Graças a Deus o programa acabou".