REFLEXÃO

Marcelo Cosme: “Pânico' e o papel do humor na sociedade

Por Fabrício Correia | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Historiador e professor universitário
Reprodução
Fala de apresentador foi considerada homofóbica
Fala de apresentador foi considerada homofóbica

Sempre fui fã do programa "Pânico" e da maneira como ele traz à tona o extrato social de forma irreverente e provocativa. Emilio Surita, com sua habilidade única de comunicação, é indiscutivelmente um dos grandes comunicadores do país. É com orgulho que faço parte da equipe da Jovem Pan e contribuo como um de seus apresentadores. No entanto, vivemos um tempo de novos contornos, onde a sociedade está cada vez mais consciente e exigente em relação ao respeito e à inclusão.

O recente incidente envolvendo uma piada homofóbica sobre o jornalista Marcelo Cosme no programa "Pânico" é um reflexo de como o humor pode, às vezes, cruzar linhas que não deveriam ser cruzadas. Não se trata de politicamente correto ou mimimi, mas sim de reconhecer que palavras têm poder e impacto. Em um mundo cada vez mais polarizado, é essencial que o humor não se torne uma ferramenta para perpetuar o preconceito e a divisão.

A piada homofóbica feita contra Marcelo Cosme não foi apenas uma tentativa de humor de mau gosto, mas um ataque que reforça estereótipos negativos e alimenta a intolerância. Quando a mídia, especialmente programas populares como o "Pânico", utiliza o humor de maneira discriminatória, contribui para a perpetuação de uma cultura de desrespeito e exclusão. Isso afeta diretamente a saúde mental e o bem-estar das pessoas que são alvo dessas piadas.

O impacto de piadas preconceituosas vai além do momento de riso. Elas têm consequências reais e dolorosas para as pessoas e comunidades que são alvo desses conteúdos discriminatórios. Além disso, elas reforçam atitudes separatistas e normalizam a intolerância, tornando mais difícil para as comunidades minoritárias e menorizadas a alcançar igualdade e respeito.

A resposta da Jovem Pan, pedindo desculpas públicas, é um passo importante. É necessário um compromisso contínuo de todas as partes envolvidas — mídia, público e líderes de opinião — para promover um ambiente de respeito e inclusão. Devemos usar o humor para unir, somar esforços e não para dividir. Ele pode e deve ser uma ferramenta poderosa para desafiar injustiças e promover a empatia, mas sempre de maneira que respeite a dignidade humana.

Vivemos em uma era onde o respeito e a dignidade são valores fundamentais. É possível manter o humor irreverente e provocativo sem recorrer ao desrespeito e à marginalização de grupos vulneráveis. Emilio Surita e sua equipe têm a oportunidade de liderar essa mudança, com conteúdos que nos auxilie a refletir esses novos valores. O humor pode e deve continuar a desafiar o status quo, mas sempre com um compromisso claro com o respeito e a inclusão.

Como apresentador da Jovem Pan, sinto um orgulho imenso de fazer parte de uma equipe que tem a capacidade de influenciar positivamente a sociedade. No entanto, com essa influência vem a responsabilidade de garantir que estamos promovendo uma cultura de respeito e inclusão. A piada feita contra Marcelo Cosme deve servir como um ponto de reflexão para todos nós. Devemos nos questionar sobre como podemos usar nossas palavras e ações para promover o respeito e a inclusão.

A verdadeira liberdade de expressão deve andar de mãos dadas com o respeito pelo próximo. A mudança começa com pequenos passos e atitudes diárias, e cada um de nós tem um papel a desempenhar na criação de um mundo onde todos possam viver com dignidade e respeito. Que o “Pânico” tenha vida longa e que o humor continue contagiando a prática do bem. Como a vinheta de encerramento: “Terminou, terminou; eles não desistem”.

* Fabrício Correia é historiador e professor universitário

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