LIVROS RECOLHIDOS

Prefeitura retira de escolas de S.José livro que fala de Marielle

Livro conta a história de 20 pesquisadoras que alcançaram posições antes restritas a homens; assim como a autora, a maioria das mulheres mencionadas são negras

Por Xandu Alves | 12/06/2024 | Tempo de leitura: 2 min
São José dos Campos
Repórter Especial

Reprodução

Autora Flávia Martins segurando o livro 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas'
Autora Flávia Martins segurando o livro 'Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas'

A Prefeitura de São José dos Campos determinou o recolhimento do livro “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas”, escrito pela juíza Flávia Martins de Carvalho, das salas de leitura das escolas municipais da cidade.

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Lançada em julho de 2022, a obra conta a história de 20 pesquisadoras que alcançaram posições antes restritas a homens. Assim como a autora, a maioria das mulheres mencionadas no livro são negras e brasileiras, entre elas a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, ao lado do motorista Anderson Gomes.

A ordem para o recolhimento do livro foi passada por mensagem à direção das escolas na quarta-feira (11), e cumprida nesta quinta-feira (12), segundo professores consultados por OVALE.

Na terça-feira, na sessão de Câmara, o vereador Thomaz Henrique (PL) havia cobrado a retirada dos livros, afirmando que a obra tem como uma das referências Débora Diniz, defensora do aborto.

"A gente quer saber quem aprovou, quem comprou esses livros para as escolas públicas do município, quem permitiu isso aqui? Precisa ser punido, não acredito que o prefeito concorde com isso aqui, e esse livro tem que ser recolhido das escolas", afirmou o parlamentar.

Flávia Martins é juíza de direito no Tribunal de Justiça de São Paulo e juíza auxiliar no STF (Supremo Tribunal Federal), considerada a única magistrada negra na Suprema Corte do país.

“Queremos contribuir para o empoderamento feminino, para a educação antirracista e para a formação inclusiva apresentando mulheres bastante diversificadas que, através de seus saberes, trouxeram grandes contribuições para o Brasil e para o mundo”, disse a juíza sobre o livro, em entrevista à Folha de S.Paulo.

INDIGNAÇÃO.

Em São José, o recolhimento da obra causou estranheza e indignação entre professores da rede municipal de ensino.

“É um livro que, por meio de poesias sensíveis e profundas, homenageia, celebra e canta a vida de mulheres com histórias inspiradoras, de sucesso e de superação. Por isso, na escolha há Marielle Franco, cuja memória mantemos viva em sua luta pelos mais necessitados. É um absurdo essa censura que ocorre nas escolas de nossa cidade”, disse Jéssica Marques, professora de História em escola municipal de São José.

Filiada ao PSOL e pré-candidata a vereadora na cidade, Jéssica disse que o partido irá entrar com uma representação no Ministério Público contra a retirada do livro das escolas de São José.

“É assustador o que aconteceu. O livro é muito voltado para as meninas. Falei com algumas alunas e elas não entenderam o que aconteceu. Nunca vi uma situação como essa, sem justificativa e sem diálogo.”

OUTRO LADO.

Em nota, a Prefeitura de São José dos Campos confirmou que o livro “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas” foi recolhido das unidades de ensino.

Segundo a administração, a retirada da obra das salas de leitura se deu para que “o conteúdo seja reavaliado pela equipe técnica da Secretaria de Educação e Cidadania”. O motivo da reavaliação não foi informado.

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5 COMENTÁRIOS

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  • Joao Prisco
    13/06/2024
    Censura Racista criminosa e discriminatória, própria de fascistas praticadas por esse vereador e pela administração municipal que merecem e precisam serem responsabilizados criminalmente.
  • Laurence Benatti
    13/06/2024
    Sempre haverá escritoras com tendências esquerdistas querendo incutir nos alunos, que ainda não têm discernimento para controvérsias e crítica amadurecida, estas falácias! Retire-se imediatamente. Chega de distribuir material a custo do dinheiro público de matérias que não interessam à educação. Exponha em livrarias e verifique se vai vender uma única unidade. Outro lixo do Século XXI.
  • WANDERSON CESAR MARTINS DE SOUZA
    13/06/2024
    Thomaz Henrique ,como sempre fazendo nada de bom ,projeto de extremista medíocre esse é outro bolsodele , tá nem ai com sjc.
  • Rosângela Moura
    13/06/2024
    Como mulher, negra e cidadã brasileira, me sinto violentada, com esse fato triste, lamentável e preocupante! O que existe de errado com um livro que trata temas relevantes? O protagonismo de mulheres é um crime? O que há de errado com esse livro? Retirada de obras das bibliotecas públicas e escolares de modo autoritário, isto sim é \"uma escola com partido\" e inconstitucional.
  • Renato
    12/06/2024
    Esse governo municipal é autoritário e usa a sua posição de poder para silenciar pessoas com quem discorde. Isso não é democracia. É autoritarismo. É retrocesso. É um recado para mulheres negras que elas nunca vão ter espaço de depender desse prefeito. Não precisa concordar com Marielle e o posicionamento de seu partido para reconhecer que ela foi pioneira e que sofreu um crime brutal. Tentar apagar da história um assassinato político mostra bem o lado que a prefeitura está. É um escárnio para uma cidade que se diz \"inteligente\". Estão contribuindo para o silenciamento de mulheres. É triste.