PERSONAGEM

Cientista de S.José especialista em cobras é destaque em exposição da Nature, em Londres

Eletra de Souza é estudante de doutorado na USP, em parceria com o Instituto Butantan; joseense estuda serpentes e sua relação com o ambiente, a ecologia e os seres humanos

Por Xandu Alves | 22/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min
São José dos Campos

Divulgação / Pablo Albarenga

Eletra com uma cobra no Butantan
Eletra com uma cobra no Butantan

Natural de São José dos Campos, a cientista Eletra de Souza, 32 anos, é destaque em exposição na estação de trens de King’s Cross, em Londres (Inglaterra), promovida pela revista Nature, a mais importante publicação científica do mundo.

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Ela fez parte de um grupo de 50 cientistas ao redor do mundo destacados em entrevistas na revista, publicadas em 2021. Na época, uma editora da Nature a localizou pelo LinkedIn e a convidou para fazer parte da coletânea.

Agora, a Nature selecionou alguns desses jovens pesquisadores para a exposição “What Does a Scientist Look Like?” (Qual é a aparência de um cientista?), que traz fotografias dos cientistas em outdoors instalados em bancos na estação londrina.

“Isso tudo é meio inesperado para mim, uma surpresa. A Nature quer dar visibilidade para cientistas em início de carreira. Estou muito contente por ter sido uma das escolhidas”, disse Eletra, que mora em São Paulo e se especializou em cobras.

PÍTON GIGANTE

A ligação da cientista com as cobras começou no ensino fundamental, em São José dos Campos, quando ela visitou um aquário no litoral sul de São Paulo, durante uma excursão do colégio.

Enquanto tubarões, pinguins e peixes exóticos cativavam os colegas, Eletra, aos 12 anos, ficou apaixonada por uma gigante cobra Píton-bola albina.

“Píton enorme e lembro que era albina, amarela e branca. Lembro que fiquei impressionada e achei lindo e maravilhoso. Olhei e fiquei marcada. Queira estudar mais esse bicho. Fiquei fascinada e sempre tive esse sonho de estudar as cobras”, contou a joseense.

FORMAÇÃO

Após frequentar três escolas em São José até a conclusão do ensino médio, Eletra graduou-se em biologia pela Universidade Federal de São Carlos. Então, passou dois anos no Instituto Butantan, na capital, trabalhando no Museu Biológico e estudando cobras que vivem nos rios e parques urbanos de São Paulo.

Em seguida, fez mestrado na Unesp (Universidade Estadual Paulista), com orientação do Butantan, pesquisando a biologia reprodutiva da Surucucu (Lachesis muta), uma das maiores cobras venenosas das Américas.

Atualmente, Eletra cursa o doutorado na USP e mantém a pesquisa com cobras, em parceria com o Butantan. Ela deve concluir esses estudos em meados de 2025.

FAZENDA

A pesquisa é feita em uma fazenda de produção de palmito na cidade de Sete Barras, no Vale do Ribeira (SP). Eletra busca e identifica as cobras que estão inseridas naquele ambiente, para conhecer a maneira como os animais vivem, se usam as áreas de plantação e o contexto em que os acidentes ocorrem.

Ela estuda principalmente a jararaca, serpente responsável pela maior parte das 26 mil picadas de cobra registradas no Brasil a cada ano. Segundo a pesquisadora, o país é o terceiro com mais espécies de cobras no mundo, com mais de 400, atrás de México e da Austrália.

“No início, pensei que as cobras eram bonitas, mas à medida que aprendi e trabalhei com elas, fiquei curiosa para saber como o seu ambiente influencia os seus movimentos e atividades”, escreveu Eletra, em texto publicado pela Nature (leia aqui em inglês).

RASTREAMENTO

Como as serpentes não são fáceis de encontrar, Eletra usa uma metodologia de rastreamento para estudá-las. As serpentes são capturadas e levadas ao Butantan, para que uma veterinária implante um chip rastreador nelas. “Vou rastreá-las todos os meses, por pelo menos 10 dias, para ver por onde elas estão se movimentando”.

A joseense explicou que estuda as cobras para entender como reduzir os acidentes e analisar os fatores ambientais e ecológicos que envolvem os animais.

Segundo ela, nem tanto pela mortalidade, que é mais baixa do que de outras doenças, a picada de cobra pode causar problemas graves relacionados à comorbidade das vítimas, com risco de perda da função renal e amputação de membros, entre outros males.

“A mortalidade em si não é algo tão preocupante, outras doenças matam mais. Mas uma picada exige muito tempo de recuperação, com fisioterapia e até estresse pós-traumático. O custo é alto para a sociedade.”

Nunca tendo sido picada por cobra na vida – “Sou super adepta do respeito máximo ao animal, de manusear com o devido cuidado” –, Eletra revela que sonha em ver uma Naja em seu hábitat natural, na Índia. "Adoraria", disse.

Para quem sonhou estudar cobras visitando um aquário, aos 12 anos, nada custa imaginar um encontro com a rainha das cobras, mesmo que do outro lado do planeta.

Eletra de Souza / Pablo Albarenga
Eletra de Souza / Pablo Albarenga
Eletra de Souza / Pablo Albarenga
Eletra de Souza / Pablo Albarenga
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock
Outdoor da exposição de jovens cientistas em Londres / John Sturrock

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