IMPROBIDADE

TJ nega seguimento a dois recursos de Saud contra quebra de sigilo em ação do MP

Quebra de sigilo fiscal, bancário e de dados, que atinge prefeito, secretário de Saúde, servidores e terceirizadas, foi determinada após Ministério Público denunciar suposta fraude

Por Julio Codazzi | 24/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Taubaté

Divulgação

O prefeito de Taubaté, José Saud (MDB)
O prefeito de Taubaté, José Saud (MDB)

O Tribunal de Justiça negou seguimento a dois recursos do prefeito de Taubaté, José Saud (MDB), contra a decisão que determinou a quebra dos sigilos fiscal, bancário e de dados - o que inclui e-mails e trocas de mensagens - do emedebista, do secretário de Saúde, Mario Celso Peloggia, do ex-secretário adjunto de Saúde Fabricio Grasnele Galvão Velasco, do ex-diretor de Saúde Fabio Henrique da Cruz, e de duas OSs (Organizações Sociais) contratadas pelo município, o Iesp (Instituto Esperança) e o INCS (Instituto Nacional de Ciências da Saúde).

Nos recursos, que eram endereçados ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Supremo Tribunal Federal), a defesa de Saud alegava que o pedido de quebra dos sigilos foi feito "sem qualquer tipo de fundamentação", que "não há indício razoável de autoria e participação em infração penal, não está demonstrado que a prova não pode ser feita por outros meios disponíveis, tampouco há fato investigado com pena, seja de reclusão, seja de detenção, demonstrando o absurdo da quebra do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática".

Os dois recursos foram rejeitados pelo presidente da Seção de Direito Público do TJ, o desembargador Wanderley José Federighi, que apontou que as instâncias superiores não podem fazer "nova incursão no campo fático" ou "reexame das provas colhidas no correr do feito". Saud poderá recorrer novamente, dessa vez diretamente ao STJ e ao STF.

SIGILO.
A quebra de sigilo foi determinada em outubro de 2022 em duas ações de improbidade administrativa propostas em junho e julho do ano passado pelo Ministério Público. Nos processos, que tramitam em segredo de justiça, a Promotoria aponta supostas irregularidades em terceirizações nas unidades de urgência e emergência do município.

Determinada pelo juiz Jamil Nakad Junior, da Vara da Fazenda Pública de Taubaté, a quebra dos sigilos será referente ao período de outubro de 2021 (um mês antes da abertura dos processos licitatórios) a 31 de maio de 2022.

Anteriormente, Saud chegou a apresentar outros dois recursos ao Tribunal de Justiça, alegando que as ações "padecem de provas concretas dos supostos atos de improbidade", tratando-se de "meras ilações, desprovidas de arcabouço comprobatório, visto que não houve comprovação do desvio de verba pública, do alegado superdimensionamento das necessidades do serviço público de saúde, do esquema fraudulento e sequer dos supostos funcionários fantasmas". Essas apelações foram rejeitadas pela 4ª Câmara de Direito Público do TJ em março e junho de 2023.

PROCESSOS.
A primeira ação tem como foco o contrato emergencial firmado entre Prefeitura e Iesp no fim de fevereiro do ano passado, que começou a ser executado em março. O instituto recebeu R$ 6,111 milhões para disponibilizar médicos para quatro unidades de urgência e emergência –  o PSM (Pronto Socorro Municipal), as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) Santa Helena e San Marino e o PA (Pronto Atendimento) do Cecap. Para o MP, a situação de emergência foi forjada, pois o atual governo teve início em janeiro de 2021 e apenas no fim daquele ano abriu as licitações para substituir o contrato até então em vigência, que se encerrava em fevereiro de 2022.

A segunda ação aponta supostas irregularidades nas licitações para terceirizar a gestão das quatro unidades, como: transferência para a iniciativa privada de toda a gestão, operacionalização e execução de serviços essenciais de saúde, o que seria proibido por lei; não realização de estudos que comprovassem a insuficiência do serviço e a impossibilidade de ampliá-lo sem o auxílio da iniciativa privada; falta de aval do Comus (Conselho Municipal de Saúde) para as terceirizações; qualificação de duas entidades (o Iesp e INCS) como Organizações Sociais, sem que as mesmas atendessem todas as exigências da legislação municipal; prejuízo aos cofres públicos, pois os médicos terceirizados receberiam salários superiores ao piso da Prefeitura; quarteirização de serviços; e falta de controle sobre a frequência dos profissionais, o que possibilitaria casos de funcionários fantasmas. Somados, os quatro contratos de terceirização custam R$ 105 milhões por ano.

Ao fim dos processos, o MP pede que Saud, Peloggia, Velasco e Cruz sejam condenados à perda da função pública, suspensão dos direitos políticos por até 12 anos, pagamento de multa e também de indenização por danos morais coletivos. Todos os denunciados negam qualquer irregularidade.

Receba as notícias mais relevantes de Vale Do Paraíba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.