POLITICANDO

A disputa - bem rasa - pelo voto bolsonarista

De olho no voto do eleitorado de direita para 2024, políticos da região têm apostado em propostas inconstitucionais ligadas às pautas de costumes, desviando dos problemas reais

Por Julio Codazzi | 06/10/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Primeiro turno em 2024 será no dia 6 de outubro
Primeiro turno em 2024 será no dia 6 de outubro

Faltando exatamente um ano para as eleições municipais de 2024, está aberta a temporada de caça aos votos bolsonaristas na região. Votos, aliás, que podem ser decisivos para as disputas que serão travadas nas 39 cidades.

Formado por um eleitorado majoritariamente conservador, o Vale do Paraíba viu Jair Bolsonaro superar Lula em 34 municípios no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Em São José dos Campos, por exemplo, o então presidente obteve 62,66% dos votos válidos. Em Taubaté, 66,24%.

Mas a fórmula adotada até agora pelos políticos para tentar seduzir o eleitorado bolsonarista ameaça empobrecer o debate que será travado até o ano que vem. Há um risco enorme de repetirmos 2020, quando as eleições municipais foram bombardeadas com inúmeras fake news - como a do banheiro unissex, por exemplo - e o terror psicológico criado sobre as pautas de costumes fez com que muitos votassem com o fígado.

No caso de Bolsonaro, mentiras à parte, não era um absurdo incluir as pautas de costumes nos debates. Embora os problemas reais do país estivessem em outras áreas, como saúde, economia e educação, um presidente da República pode realmente propor leis sobre temas como aborto e descriminalização das drogas.

Por outro lado, qualquer pessoa com mínima noção jurídica sabe que prefeitos e vereadores não têm competência alguma para legislar sobre esses temas. O problema é que, na busca por conquistar o eleitorado bolsonarista, políticos da região têm avançado sobre princípios fundamentais da Constituição Federal, que acaba de completar 35 anos.

Nesse vale-tudo para tentar arrebatar os votos do eleitorado de direita, têm proliferado na região iniciativas inconstitucionais, como a tentativa de municipalizar debates sobre pessoas trans ou de proibir a Marcha da Maconha, ou a retomada de propostas que visam proibir os chamados banheiros 'multigênero'.

O eleitor que cai nessas armadilhas acaba enganado duas vezes. Primeiro, por acreditar que essas propostas podem realmente sair do papel. Segundo, por permitir que o debate seja pautado por disparates, deixando de lado os temas que realmente influenciam em sua vida.

O que é mais adequado para o eleitor: discutir projetos inúteis ou debater propostas reais, que possam melhorar o transporte público e o atendimento na saúde, zerar a fila de espera das creches, criar empregos e sanar as dívidas dos municípios?

O primeiro turno da eleição de 2024 deve ocorrer no dia 6 de outubro. Se esse ano que falta fosse usado para discutir profundamente os problemas das cidades, provavelmente teríamos avanços consideráveis nos municípios a partir de 2025. Mas, infelizmente, o debate começou bem raso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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1 COMENTÁRIOS

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  • Jeferson
    12/10/2023
    É só pensar no que é pior. Uma Marcha da Maconha em São José ou um AME em São José dos Campos que sequer atende a demanda da própria cidade e está ainda mais sobrecarregado por ter atender a demanda de Jacareí, já que o governo estadual não disponibiliza o equipamento em Jacareí usando o argumento esfarrapado da proximidade entre Jacareí e São José. Não seria melhor para todos, sem querer entrar no mérito de marcha para liberação de maconha, o prefeito joseense unir esforços aos inúmeros pedidos que estão sendo feitos por Jacareí para implantar um AME na cidade, o que ajudaria a desafogar a unidade do AME em São José, reduzindo a enorme fila de espera para atendimento que existe hoje? Questão de prioridades.