EDITORIAL

O disparate golpista

Delação de Mauro Cid para a PF reforça hipótese de que Bolsonaro tentou envolver Forças Armadas em golpismo

23/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Embora não seja surpreendente, é gravíssima a revelação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid sobre uma suposta reunião em que Jair Bolsonaro teria sondado a cúpula militar sobre a adesão a um possível golpe para não reconhecer o resultado da eleição de 2022, na qual o então presidente foi derrotado por Lula.

O episódio foi narrado no acordo de delação de Cid, que inclui, além da armação golpista, também a venda de joias presenteadas por autoridades e a suposta falsificação de cartões de vacina.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que Cid não era qualquer um no governo Bolsonaro. Ele era o faz-tudo, provavelmente a pessoa mais próxima do então presidente. Em segundo lugar, é fácil reconhecer que o que o ex-ajudante de ordens narrou aos investigadores é, acima de tudo, verossímil. Por mais que seja absurdo, o episódio encaixa perfeitamente com a narrativa disseminada por Bolsonaro durante os quatro anos de mandato, período em que ele fez incessantes ataques às instituições e ao sistema eleitoral brasileiro.

À Polícia Federal, Cid disse que, logo após a derrota no segundo turno, Bolsonaro recebeu do assessor Filipe Martins a minuta de um decreto que previa convocar novas eleições e prender adversários. A PF investiga se esse documento é o mesmo que foi apreendido na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres - que determinava a decretação de um “estado de defesa” no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para apurar supostas irregularidades nas eleições.

O ex-ajudante de ordens, que é tenente-coronel do Exército, afirmou que o então presidente se reuniu com militares da alta patente para conversar sobre a viabilidade de colocar em prática a minuta golpista. Por lei, os militares deveriam ter dado voz de prisão a Bolsonaro. No entanto, o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se manifestado a favor do plano. Para sorte do país, os chefes do Exército e Aeronáutica não aceitaram embarcar no golpe.

Bolsonaro já está inelegível até 2030. Com as revelações feitas por Mauro Cid, que era seu fiel escudeiro até meses atrás, o ex-presidente vê crescer a chance de ser preso. Caso os fatos narrados na delação sejam comprovados, esse seria o fim correto para essa história. Para quem atenta contra a democracia.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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