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Em dois atos, cerco se fecha para Bolsonaro

Por Julio Codazzi | Opinião
| Tempo de leitura: 2 min
Lula Marques/Agência Brasil
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

A última semana não foi nada boa para um ex-presidente da República que dizia repetidas vezes - mesmo diante de várias evidências que apontavam o contrário - que sempre agia "dentro das quatro linhas da Constituição".

Na quarta-feira (9), Silvinei Vasques, que foi diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no governo de Jair Bolsonaro, foi preso em uma operação sobre interferência no segundo turno das eleições do ano passado, no qual o então presidente foi derrotado por Lula.

No dia 30 de outubro, data da votação em segundo turno, a PRF comandada por Vasques ignorou determinação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e realizou blitze que interferiram na movimentação de eleitores. Essas operações ocorreram principalmente no Nordeste, onde Lula tinha vantagem sobre Bolsonaro. Durante as investigações sobre o ocorrido, a Polícia Federal identificou um mapa que mostrava as cidades em que o petista havia recebido mais de 75% de votos no primeiro turno.

Vasques era subordinado ao então ministro da Justiça, Anderson Torres, que também é investigado nesse caso e cumpre prisão domiciliar. E Torres era um dos ministros mais próximos de Bolsonaro, que seria o beneficiado da empreitada criminosa que visava impedir eleitores de votar.

Se a prisão de Vasques já deve ter deixado o ex-presidente apreensivo, a sexta-feira (11) trouxe notícias ainda piores para Bolsonaro. Nessa data, a PF deflagrou uma operação em meio à investigação de um esquema de desvio e venda no exterior de presentes recebidos pelo ex-presidente. Entre os alvos estavam o ex-ajudante de ordens Mauro Cid (braço-direito de Bolsonaro, preso desde maio), o general Mauro Lourena Cid (pai de Mauro Cid) e Frederick Wassef (advogado da família do ex-presidente).

Como as joias e objetos de valor deveriam ter sido incorporados ao patrimônio público da União, a venda desses itens é ilegal e os envolvidos devem responder por crimes como lavagem de dinheiro e peculato. Os elementos reunidos pela PF para embasar a operação são diversos, como trocas de mensagens e áudios, comprovantes de compra e de saque, registros de localização em aplicativos como Waze e Uber, além de conexão na rede Wi-Fi de uma loja de relógios. Diante de tantas evidências, a PF classifica o grupo como organização criminosa e afirma que os recursos gerados com a venda dos presentes ao governo brasileiro eram repassados para Bolsonaro em dinheiro vivo.

Nesses dois casos, parece ser questão de tempo para que as investigações atinjam diretamente Bolsonaro. Inelegível até 2030, o ex-presidente, que venceu a disputa de 2018 dizendo que iria combater a corrupção, construiu entre seu eleitorado uma imagem que hoje não para em pé.

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