A comunidade de Nelson Mandela, que vai receber as casas embriões de 15 m² em Campinas, pediu nesta segunda-feira (19) reunião com o presidente Lula, após as declarações críticas do presidente sobre o projeto. Os moradores querem que o presidente conheça a história deles pela versão da comunidade e que o governo federal possa ajudar no projeto habitacional.
Em nota publicada nas redes sociais, a coordenação do movimento descreve a história da ocupação, que existe desde 2016, e pede direito de resposta à imprensa pelas notícias publicadas sem ouvir a comunidade.
"Solicitamos: Uma reunião com o Presidente @lulaoficial para que ele possa ouvir nossa história por nós mesmos e ajudar no projeto habitacional da Nelson Mandela. Direito de resposta na Globonews e demais veículos de comunicação que noticiaram sobre nosso caso sem ouvir a comunidade ou distorceram nossas falas".
Thamires Ramos, uma das lideranças da comunidade, disse a OVALE que o movimento já está buscado contato com os assessores do presidente.
A coordenação do movimento já havia se manifestado outras vezes em defesa do projeto, pois consideram uma vitória inicial depois de anos de luta por moradia.
Na nota desta segunda, a comunidade expõe que a comunidade corre risco de despejo novamente. "Por uma série de questões, o prazo estipulado já se esgotou sem que os embriões estejam prontos, o que deixa a Nelson Mandela novamente sob risco de despejo a qualquer momento."
As casas estão sendo construídas em um loteamento no distrito de Ouro Verde para abrigar 116 famílias (cerca de 500 pessoas) que devem deixar o local da ocupação, por ser alvo de processo de reintegração de posse. A construção foi viabilizada em acordo judicial e tinha o prazo inicial de quatro meses para ser concluída. Por conta de atraso na obra, o prazo foi prorrogado por mais dois meses e expirar no final do primeiro semestre.
A Prefeitura disse a OVALE que a reintegração de posse está suspensa até que se construa os embriões e que não há risco de despejo. "O prazo termina agora no primeiro semestre, quando os embriões ficarão prontos. O prazo que a Sehab tinha era pequeno e por isso foram construídos os embriões. A Sehab está dentro dos prazos pactuados com juiz que trata do caso", afirmou em nota.
O caso da moradia embrião ganhou repercussão nacional depois de ter sido revelado em uma série de reportagens de OVALE e da Sampi Campinas, que mostraram com exclusividade que as unidades de 15 m2 ferem as diretrizes da ONU (Organização das Nações Unidas).
Veja abaixo a íntegra da nota:
NADA SOBRE NÓS SEM NÓS - NOTA DAS BRIGADAS POPULARES E DA OCUPAÇÃO NELSON MANDELA
Nas últimas semanas, muito se falou sobre a ocupação Nelson Mandela (Campinas/SP) sem que a comunidade tivesse espaço para contar sua versão. Publicamos três notas que foram solenemente ignoradas pela mídia e mesmo pela prefeitura da cidade. Portanto, segue aqui um pouco da nossa história, por nós mesmos.
A Ocupação Nelson Mandela existe desde 2016 como única forma de moradia para 100 famílias, que totalizam mais de 500 pessoas. Quase todas essas famílias possuem crianças pequenas em seus lares. Desde o início, a Ocupação sofre com a ameaça de despejo, sendo que a última ordem de reintegração deveria ter ocorrido em dezembro de 2022.
No entanto, após 7 anos de luta e organização, conquistamos a tão esperada conquista de uma casa para as famílias. Ou seja, conquistamos um terreno para abrigar as 100 famílias, que seriam distribuídos em lotes de 90m² por unidade habitacional.
Na ocasião, o processo de negociação chegou a um acordo de construção de embriões de casas de 15m² pela prefeitura de Campinas. Esta foi a possibilidade ofertada pela Prefeitura para que a construção das casas fosse finalizada antes do prazo final do despejo da Ocupação – acordo que foi reconhecido pela Justiça e paralisou o processo de reintegração de posse até que as novas residências estivessem prontas.
Reiteramos que este foi o acordo possível que conseguimos com muita luta na conjuntura em que o Brasil e Campinas estavam naquele momento. Por uma série de questões, o prazo estipulado já se esgotou sem que os embriões estejam prontos, o que deixa a Nelson Mandela novamente sob risco de despejo a qualquer momento.
Hoje conseguimos uma atenção nacional sobre a precariedade das nossas condições de moradia e por isso QUEREMOS QUE NOSSA VOZ SEJA OUVIDA!
Sendo assim, solicitamos:
- Uma reunião com o Presidente @lulaoficial para que ele possa ouvir nossa história por nós mesmos e ajudar no projeto habitacional da Nelson Mandela.
- Direito de resposta na Globonews e demais veículos de comunicação que noticiaram sobre nosso caso sem ouvir a comunidade ou distorceram nossas falas
Temos orgulho do que conquistamos, pois só nós sabemos quanta luta foi necessária. A trajetória das famílias da Nelson Mandela não pode ser negligenciada na cobertura e ações sobre nossa comunidade.
Nada sobre nós sem nós
Comunidade Nelson Mandela
Brigadas Populares
Leia também:
Embrião: Comunidade critica tom eleitoreiro de vídeo e pede retratação de Dário
Casa 15 m²: Frente Nacional de Prefeitos defende Dário e diz que Lula está equivocado
Casa embrião de 15 m² é ‘moradia doente’ e traz riscos de ‘precariedade habitacional’
‘Discurso de 'dar um pouco a mais ao pobre’ é criminoso, preconceituoso e excludente’
Lula pede correção ao vivo por jornalista associar casa de 15 m² ao governo federal