Editorial

As joias de Bolsonaro

10/03/2023 | Tempo de leitura: 2 min

O escândalo das joias de R$ 16,5 milhões, que seriam um suposto presente da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama, pode ser considerado um puro suco do governo Bolsonaro. Afinal, de todos os episódios escabrosos da gestão do ex-presidente, esse caso tem a particularidade de reunir os principais elementos nefastos da gestão passada.

Um deles, por exemplo, é a confusão entre público e privado. Durante sua trajetória política, a família Bolsonaro sempre demonstrou desconhecer - ou ignorar deliberadamente - esse limite. Não foram raros os episódios em que órgãos de estado foram utilizados para satisfazer os interesses do clã. Dessa vez, o então presidente acionou pelo menos três ministérios para tentar tomar posse de um conjunto que sequer lhe pertencia - formado por itens valiosos, que seus assessores tentaram fazer entrar no país ilegalmente. No desespero final, usou até uma aeronava da FAB (Força Aérea Brasileira) na empreitada, mas não teve sucesso.

Outro elemento evidente nesse caso é a desmistificação da imagem de homem simples, que Bolsonaro tentava passar na presidência. Ao mesmo tempo em que se sujava todo ao comer frango com farofa nas ruas, o então presidente fez pelo menos oito tentativas de recuperar - de forma ilegal - o conjunto de joias de R$ 16,5 milhões que havia sido apreendido na alfândega. E tomava posse - também de forma ilegal - de um segundo conjunto de itens, de R$ 400 mil.

Também ficou nítido nesse episódio o uso de militares para atividades escusas do governo. Nesse caso, ao menos quatro integrantes das Forças Armadas participaram da tentativa de ingressar no país ilegalmente com os dois conjuntos e de recuperar o pacote mais valioso, com as joias, que foi apreendido.

Ainda podemos destacar, como marcas da gestão Bolsonaro nesse episódio, as mentiras (o governo brasileiro afirmou aos sauditas que os conjuntos haviam sido incorporados ao patrimônio do país) e a hipocrisia de quem dizia combater a corrupção enquanto agia fora da lei - apenas nesse caso serão analisados possíveis crimes como lavagem de dinheiro, desvio de recursos públicos (peculato) e corrupção passiva.

Azedo, o puro suco do bolsonarismo não surpreende (quase) ninguém. Agora, revelado o escândalo indigesto, a receita é não servi-lo acompanhado de uma pizza. Sem impunidade, o mal-estar será sentido apenas pelos culpados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Vale Do Paraíba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.