Editorial

O golpismo revelado

03/02/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Embora o senador Marcos Do Val tenha apresentado pelo menos quatro versões conflitantes sobre o episódio, é urgente que seja feita uma apuração rigorosa sobre a suposta articulação de um golpe que teria envolvido o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado federal Daniel Silveira.

Na primeira versão, o senador disse que Bolsonaro havia tentado coagi-lo para dar um golpe de estado e ainda teria dito que o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), que é o órgão do governo federal que tem a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sob seu organograma, ainda forneceria os equipamentos de espionagem necessários para a operação.

Essa denúncia, gravíssima, aponta não apenas um presidente da República tentando articular um golpe, mas também usando a estrutura de órgãos de estado em uma ofensiva contra a nossa democracia. E qual seria a missão atribuída a Do Val? Fazer uma gravação ilegal de uma conversa com o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na tentativa de extrair dele alguma declaração que pudesse ser usada para justificar uma ruptura institucional, que levasse à prisão do ministro e impedisse a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Após essa primeira versão vir à tona, Do Val disse ter recebido uma ligação telefônica do também senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é um dos filhos do ex-presidente. Na sequência, estranhamente, passou a apresentar versões diferentes da história, sempre buscando inocentar Bolsonaro e atribuir toda a culpa a Silveira.

Os relatos das partes envolvidas são antagônicos, mas há alguns pontos em comum. O primeiro é que a reunião entre Do Val, Bolsonaro e Silveira realmente ocorreu, no dia 9 de dezembro. E que, nela, falou-se sobre a possibilidade da gravação ilegal do diálogo com Moraes. Mesmo na versão mais favorável a ele, no mínimo o ex-presidente testemunhou um crime e não fez nada a respeito. Prevaricou. Na versão menos favorável, articulou um golpe de estado. Uma das suspeitas é de que outra peça desse quebra-cabeça seja a minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

Os elementos já conhecidos não deixam dúvida de que integrantes do governo Bolsonaro articularam um golpe de estado. O próximo passo é descobrir quem participou. E puni-los, no rigor da lei.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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