Os ataques terroristas de 8 de janeiro podem ser analisados sob diversos prismas. Pode-se abordar a gravidade dos atos golpistas, que atentaram não apenas contra prédios públicos dos três poderes, mas também - e principalmente - contra a democracia brasileira. Pode-se falar sobre o ineditismo do episódio, que consistiu em uma tentativa de golpe em plena luz do dia. Pode-se discutir a conivência de agentes públicos e daqueles que deveriam garantir a segurança do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).
No entanto, embora na tarde daquele domingo o país todo tenha ficado grudado em frente à TV com cara de "não acredito no que está acontecendo", o mais estarrecedor é concluir que já tínhamos recebido uma série de avisos de que o Brasil teria um 'ataque ao Capitólio' para chamar de seu.
O ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, ocorreu em 6 de janeiro de 2021. Um dia depois do atentado incentivado por seu muso inspirador Donald Trump, Jair Bolsonaro antecipou que o mesmo poderia ocorrer por aqui. "Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos".
E não foi só. Em 87 lives feitas entre janeiro de 2021 e setembro de 2022, o então presidente brasileiro insinuou fraude nas urnas em 35 delas. Além disso, em diversos outros episódios Bolsonaro insuflou seus apoiadores contra as instituições democráticas, fazendo acusações sem provas contra o sistema eleitoral e contra o Judiciário.
As cerca de 4 mil pessoas que estiveram em Brasília no dia 8 e participaram dos atos golpistas precisam ser identificadas e punidas, mas elas são apenas a ponta do iceberg. Esses extremistas invadiram as sedes dos três poderes com o objetivo claro de concretizar o golpe que Bolsonaro havia prometido a eles.
Bolsonaro usou os quatro anos de seu mandato para gestar um golpe de estado. E não escondeu isso de ninguém. E, embora a tentativa de golpe tenha falhado, é óbvio que esse plano deveria ter sido combatido muito antes. Nesse ponto as instituições falharam - em especial, a PGR (Procuradoria Geral da República), comandada por Augusto Aras, que ignorou uma série de desmandos do então presidente.
As instituições, que falharam até aqui, têm agora a oportunidade de transformar esse triste episódio em um divisor de águas. E nem precisam fazer nenhuma mágica para isso. Basta garantirem o cumprimento da lei. Sem mais passada de pano ou complacência diante de situações absurdas. O Brasil que teremos no futuro será decidido agora, no presente. Se todos os envolvidos na invasão golpista não forem punidos, com rigor, daremos sinal verde para que esse tipo de ataque à nossa democracia se repita.
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Maria Rita 19/01/2023A grande questão é a de quem incentivou ou pagou pela invasão. Como é possível que pessoas passem 60 dias na mais absoluta organização, limpeza e paz e de repente sair depredando o patrimônio brasileiro. As redes sociais seguem veiculando várias imagens suspeitas. O atual presidente não quer a CPI dos atos antidemocráticos. Muitos consideram que ele sabe, ou pelo menos desconfia, quem são os mandantes.