JULIO CODAZZI

Abuso e fake news maculam as eleições

Por Julio Codazzi | Editor-executivo de OVALE/Gazeta de Taubaté
| Tempo de leitura: 2 min
Marcelo Casal Jr./Agência Brasil
O presidente da República, Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro

Apenas na noite do próximo domingo, dia 30 de outubro, saberemos quem será o grande vencedor das eleições desse ano. Mas, infelizmente, não foi preciso esperar tanto para percebermos quais foram os maiores perdedores nesse pleito: a democracia, a legislação e o processo eleitoral em si. E tudo isso porque as instituições que deveriam assegurar a lisura da disputa não funcionaram a contento – aliás, ficaram bem longe disso.

Parafraseando Lula, que é um dos candidatos a presidente esse ano, “nunca antes na história desse país” tivemos tamanho abuso de poder político e econômico por parte de um postulante à reeleição – no caso, o adversário do petista, Jair Bolsonaro.

O uso da máquina pública, que já era pesado desde o início do ano, foi ampliado no segundo turno. Atrás dos 6,1 milhões de votos de distância para o rival, o presidente apostou na ampliação do pacotaço eleitoreiro. Em intervalo de poucos dias, foram adotadas medidas como antecipação de pagamentos do Auxílio Brasil, vale gás e auxílio para taxistas e caminhoneiros, inclusão de mais 500 mil famílias no Auxílio Brasil, criação do consignado do programa, liberação de crédito com FGTS futuro e abertura de programa de refinanciamento de dívidas.

Os números são superlativos. Em 2022, o gasto adicional com medidas eleitoreiras é de R$ 66 bilhões. Desse total, R$ 21 bilhões foram repassados diretamente para a população desde o início da campanha, em agosto.

Essa descarada tentativa de compra de votos, obviamente, fere a legislação eleitoral - além de ser uma enorme irresponsabilidade fiscal, que prejudicará ainda mais os cofres públicos. Mas nem o Ministério Público, por meio da Procuradoria-Geral Eleitoral, e nem o Judiciário, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), parecem se importar.

E não é só. O uso da máquina vem acompanhado de uma versão ainda mais agressiva da rede de desinformação que já havia promovido uma enxurrada de fake news na eleição de 2018 - e que também havia ajudado aliados nas disputas municipais de 2020.

Para efeito de comparação, de 352 postagens excluídas das redes sociais a pedido das campanhas à Presidência, desde o início do primeiro turno, 334 (94,8% do total) eram de Bolsonaro e seus aliados.

Depois do criminoso show de horrores de 2018, nossas instituições tiveram quatro anos para desarticular a rede de desinformação bolsonarista. A PGR (Procuradoria-Geral da República), comandada por Augusto Aras, que é aliado do presidente, nada fez nesse sentido. E pior: ainda buscou atrapalhar as tentativas do STF (Supremo Tribunal Federal) de investigar a existência de milícias digitais que atentam contra a democracia.

Aras, aliás, voltou a agir. Sem qualquer pudor, tenta barrar no STF o esforço do TSE para agilizar a remoção de conteúdos falsos na internet nessa reta final de segundo turno.

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