JULIO CODAZZI

Abuso e fake news maculam as eleições

Com instituições de braços cruzados, campanha é marcada por irregularidades como rede de desinformação e abuso de poder político e econômico

Por Julio Codazzi | 22/10/2022 | Tempo de leitura: 2 min
Editor-executivo de OVALE/Gazeta de Taubaté

Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

O presidente da República, Jair Bolsonaro
O presidente da República, Jair Bolsonaro

Apenas na noite do próximo domingo, dia 30 de outubro, saberemos quem será o grande vencedor das eleições desse ano. Mas, infelizmente, não foi preciso esperar tanto para percebermos quais foram os maiores perdedores nesse pleito: a democracia, a legislação e o processo eleitoral em si. E tudo isso porque as instituições que deveriam assegurar a lisura da disputa não funcionaram a contento – aliás, ficaram bem longe disso.

Parafraseando Lula, que é um dos candidatos a presidente esse ano, “nunca antes na história desse país” tivemos tamanho abuso de poder político e econômico por parte de um postulante à reeleição – no caso, o adversário do petista, Jair Bolsonaro.

O uso da máquina pública, que já era pesado desde o início do ano, foi ampliado no segundo turno. Atrás dos 6,1 milhões de votos de distância para o rival, o presidente apostou na ampliação do pacotaço eleitoreiro. Em intervalo de poucos dias, foram adotadas medidas como antecipação de pagamentos do Auxílio Brasil, vale gás e auxílio para taxistas e caminhoneiros, inclusão de mais 500 mil famílias no Auxílio Brasil, criação do consignado do programa, liberação de crédito com FGTS futuro e abertura de programa de refinanciamento de dívidas.

Os números são superlativos. Em 2022, o gasto adicional com medidas eleitoreiras é de R$ 66 bilhões. Desse total, R$ 21 bilhões foram repassados diretamente para a população desde o início da campanha, em agosto.

Essa descarada tentativa de compra de votos, obviamente, fere a legislação eleitoral - além de ser uma enorme irresponsabilidade fiscal, que prejudicará ainda mais os cofres públicos. Mas nem o Ministério Público, por meio da Procuradoria-Geral Eleitoral, e nem o Judiciário, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), parecem se importar.

E não é só. O uso da máquina vem acompanhado de uma versão ainda mais agressiva da rede de desinformação que já havia promovido uma enxurrada de fake news na eleição de 2018 - e que também havia ajudado aliados nas disputas municipais de 2020.

Para efeito de comparação, de 352 postagens excluídas das redes sociais a pedido das campanhas à Presidência, desde o início do primeiro turno, 334 (94,8% do total) eram de Bolsonaro e seus aliados.

Depois do criminoso show de horrores de 2018, nossas instituições tiveram quatro anos para desarticular a rede de desinformação bolsonarista. A PGR (Procuradoria-Geral da República), comandada por Augusto Aras, que é aliado do presidente, nada fez nesse sentido. E pior: ainda buscou atrapalhar as tentativas do STF (Supremo Tribunal Federal) de investigar a existência de milícias digitais que atentam contra a democracia.

Aras, aliás, voltou a agir. Sem qualquer pudor, tenta barrar no STF o esforço do TSE para agilizar a remoção de conteúdos falsos na internet nessa reta final de segundo turno.

Seja por conveniência ou seja por falta de atitude, quem poderia impedir tantas irregularidades na campanha desse ano, falhou. Perde o Brasil.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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