Hoje quero apresentar, e peço agradecido a sua grata permissão, o texto de Cleide Canton, que algumas vezes foi confundido como obra do grande jurista Rui Barbosa, pois a autora o havia finalizado com algumas de suas frases do “Oração aos Moços”, mas corrigido o equívoco a tempo de lhe dar os méritos merecedores.
A verdade que o excelente texto ganhou notoriedade, alguns anos atrás, na voz do grande seresteiro Rolando Boldrin em seu antigo programa televisivo.
Reproduzo-o, pela sua atualidade:
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma eraque
lutou pela democracia, pela liberdade
de sere ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatezno julgamento da verdade,
a negligência com a família,célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeitopara com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildadepara reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios” para justificaratos criminosos,
a tanta relutância em esquecer a antiga posiçãode sempre “contestar”,
voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e
Jamais usei a minha Bandeirapara enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpona pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti,povo brasileiro!
“De tanto ver triunfar asnulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderesnas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto- Rui Barbosa
GUARACI ALVARENGA é advogado.