No período que estive como secretário Municipal da Educação em Jundiaí, cultivei o hábito de visitar as escolas da rede, para conversar com a equipe pedagógica e, sobretudo, com as crianças. Foi uma das melhores experiências naquele período. Ali, nos corredores e pátios, longe dos gabinetes, aprendi muito sobre educação. No interior da escola é, de fato, onde a educação acontece.
Em uma destas visitas, vivi uma experiência que jamais esqueci.
Enquanto caminhava pelo pátio, um menino se aproximou e perguntou:
- Quem é você?
- Sou o Francisco, o secretário da Educação.
- O que você faz?
- Assim como sua diretora cuida desta escola, eu sou o responsável pelas escolas da cidade.
- Nossa! Eu sou o Maicon – disse ele.
- Quantos anos você tem, Maicon?
- Oito. Estou no 2º ano. - Posso pedir uma coisa?
- Claro.
- Eu quero morar na escola, você deixa?
A surpresa me fez repetir:
- Morar na escola? Mas por quê?
- Ah! Venha ver o banheiro. Olha, tem água quente no chuveiro, tem até toalha, e é grande para a gente se enxugar.
Aquela fala simples, foi profundamente reveladora, pois reafirmou minha convicção na função social da escola pública. Se, para algumas famílias, a escola pode ter deixado de ser o principal espaço de aprendizagem, para outras continua sendo o único lugar onde é possível se pensar uma vida diferente.
Por isso, a escola precisa oferecer mais que conteúdos: deve ser um ambiente de acolhimento e dignidade. Um espaço que revela para a criança a possibilidade de pensar uma existência diferente e uma vida mais feliz.
O pedido do Maicon não pôde ser atendido. Ele não pode morar na escola. Minha esperança foi que a escola passasse a morar dentro dele.
Francisco Carbonari é ex-secretário de educação