Na história centenária do Paulista, o calendário raramente se aproximou das datas mais simbólicas do ano. O clube nunca jogou no dia 25 de dezembro, mas, em uma ocasião especial, o futebol se fez instrumento de fé e solidariedade. Na véspera de Natal de 1933, o time jundiaiense entrou em campo não apenas para disputar um amistoso, mas para contribuir diretamente com a construção da nova matriz da Vila Arens.
No dia 24 de dezembro de 1933, o Paulista venceu o Ipiranga de Jundiaí por 2 a 0, em partida amistosa realizada no então estádio da Avenida Luiz Rosa. Mais do que o placar, o que marcou aquele encontro foi sua finalidade: a construção da nova igreja matriz do bairro, que seria inaugurada poucas semanas depois. Em um período em que o esporte já caminhava lado a lado com o cotidiano da população, o clube assumiu um papel social que ultrapassava as arquibancadas.
O gesto não foi isolado no contexto da época, mas ganhou contornos especiais por ocorrer justamente na véspera de Natal.
OUTRAS PARTIDAS
Curiosamente, no ano anterior, em 1932, o Paulista também tinha um compromisso previsto para o dia 24 de dezembro. A partida, válida pelo Campeonato do Interior, seria contra o Rio Branco de Americana. Sem chances de título, o adversário optou por não viajar a Jundiaí, e o confronto acabou registrado como vitória do Paulista por W.O. Ainda naquele ano, o clube viveu outro momento incomum no calendário: jogou no dia 1º de janeiro, quando venceu o Palestra Itália Jundiaiense por 4 a 1, também pelo Campeonato do Interior, novamente no estádio da Avenida Luiz Rosa.
PRESENTE PARA A VILA ARENS
O jogo beneficente de 1933 se conecta à história da matriz da Vila Arens, símbolo da formação do bairro e da própria diversidade cultural de Jundiaí. O terreno onde a igreja foi construída teve sua escritura assinada em 9 de setembro de 1923, após doação da Companhia de Fiação e Tecidos São Bento à Mitra Arquidiocesana de São Paulo. Quatro anos depois, em 14 de agosto de 1927, foi lançada a pedra fundamental da futura matriz.
A obra se estendeu por quase sete anos e mobilizou brasileiros e imigrantes de diferentes origens: italianos, portugueses, espanhóis, entre tantos outros que se uniram em um esforço coletivo marcado pela fé e pelo trabalho voluntário. A igreja foi finalmente inaugurada em janeiro de 1934, em clima de grande celebração, tornando-se referência religiosa e comunitária da Vila Arens.

Com informações dos historiadores Ivan Gottardo e professor Maurício Ferreira.