Caro leitor, o feminicídio permanece como uma das faces mais brutais da violência de gênero, revelando uma realidade que o Brasil ainda não conseguiu enfrentar de forma efetiva. Apesar de leis, campanhas e debates públicos, mulheres continuam sendo assassinadas simplesmente por serem mulheres. São mortes anunciadas, muitas vezes precedidas de anos de agressões silenciosas, naturalizadas e ignoradas pela sociedade.
Essa forma extrema de violência não surge de repente. Ela é o ponto final de uma escalada que começa na desvalorização cotidiana, nas relações de poder desiguais, na ideia ultrapassada de que o corpo, a vida e as escolhas da mulher podem ser controlados. O feminicídio é sustentado por estruturas culturais que reforçam o machismo e a misoginia, dando aval a comportamentos abusivos que se acumulam até o rompimento trágico.
Os números mostram a urgência. A cada dia, mulheres brasileiras são mortas por companheiros, ex-companheiros ou homens que acreditam ter algum direito sobre elas. Muitas dessas vítimas buscaram ajuda e não foram ouvidas. Outras enfrentaram o medo sozinhas, acreditando que a violência faria parte inevitável da vida. É preciso romper esse ciclo, oferecendo acolhimento real, proteção eficiente e políticas que funcionem na prática.
O enfrentamento ao feminicídio exige mais do que indignação momentânea. Requer investimento em educação, em redes de apoio, em estratégias de prevenção e em justiça rápida e eficaz. Envolve também responsabilizar toda a sociedade: familiares, vizinhos, instituições e cidadãos que, diante de sinais de abuso, muitas vezes se calam.
Caro leitor, a mudança começa ao reconhecer que o feminicídio não é um crime passional, nem uma tragédia inesperada. É resultado de uma estrutura que ainda trata mulheres como seres de menor valor. E enquanto essa cultura persistir, continuaremos perdendo vidas que poderiam ser salvas.
Não basta lamentar. É preciso agir — para garantir que nenhuma mulher tenha seu destino decidido pela violência. Cada vida interrompida pelo feminicídio é um alerta e um chamado urgente à transformação que o país não pode mais adiar. Pense nisso.
Micéia Lima é pedagoga, psicopedagoga e neuropsicopedagoga na ONG ‘A casa do Ney’