OPINIÃO

Descobri na solidão


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No dia 14, 3º. Domingo do Advento, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor e Pároco do Santuário Santa Rita de Cássia, em sua homilia destacou o anúncio do Profeta Isaías (35,1-6.10) para que exulte a solidão e floresça como um lírio, porque será vista a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus. Que se fortaleça as mãos enfraquecidas e se firmem os joelhos debilitados. Da Carta de São Tiago (5, 7-10), convidou-nos a ficar firmes e a fortalecer nossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. No Evangelho (Mateus 11, 2-11), comentou sobre João Batista, que estava preso, pediu aos seus discípulos para que perguntassem ao Cristo se Ele era aquele que haveria de vir ou se deveria esperar outro.

A Rede Catedral de Comunicação Católica – Belo Horizonte, no Instagram, fez uma reflexão muito interessante sobre como João, o próprio profeta do deserto, pôde ter enviado discípulos para perguntar se Jesus era mesmo o Messias. Concluiu que até quem ama a Deus de verdade atravessa noites escuras. Inclusive quem preparou o caminho pode vacilar.

Em meio às suas reflexões, o Padre Márcio Felipe colocou que na solidão, que não é sinônimo de ser solitário, há descobertas.

Na hora me sacudiu e voltei a solidões do passado. Recordo-me que, ainda menina, coloquei uma caixa de madeira, com uma cruz em cima e, dentro, santinhos de minha devoção, cuja história me convidava a ser melhor, no meio de dois galhos da mangueira antiga que havia no quintal. Quando as angústias gritavam em mim e o estar só se agigantava, em especial na passagem da infância à puberdade, era lá que me parecia ouvir cânticos de anjos e tudo se aquietava. Lembrei-me, também, de quando, nas noites enluaradas, sozinha, ficava observando o movimento na rua de casa e cantarolando: “Oh! Tristeza me desculpe/ Estou de malas prontas/ Hoje a poesia/ Veio ao meu encontro/Já raiou o dia/ Vamos viajar. (...)Olha quantas aves brancas/ Minha poesia/ Dançam nossa valsa/ Pelo céu que o dia/ Faz todo bordado/ De raios de sol. /Oh! Poesia me ajude/ Vou colher avencas/ Lírios, rosas, dálias/Pelos campos verdes/ Que você batiza/ De jardins do céu...” Ou seja, a poesia também fala no isolamento proposital ou não.

Na solidão descobri que as pessoas não estão a meu serviço ou à minha disposição todas as vezes de que necessito.

Descobri que há vozes e questionamentos por dentro que me atordoam e me impedem de fazer as melhores escolhas.

Descobri que, ao acontecer dos anos, as companhias que seriam importantes em acontecimentos que sangram, se tornam além do horizonte, mas o fato de terem passado em minha vida acrescentam demais.

Descobri que existiram sonhos que, tornados realidade, seriam da desgraça.

Jesus respondeu a João Batista que pedira para lhe perguntarem se era Ele mesmo o Messias: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”.

Descobri que, diariamente, há acenos do Céu e nem sempre os percebo por dar mais atenção aos ruídos que me envolvem.

Descobri, também que, como disse o Padre Márcio Felipe, se meu coração estiver em Deus, na solidão o Céu se faz presença.


Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista

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