OPINIÃO

Quando o cuidado encontra resistência


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Introduzir um cuidador na rotina de um idoso resistente é um processo que exige mais escuta do que convencimento. Na maioria das vezes, a resistência não nasce da teimosia, mas do medo. Medo de perder autonomia, de ser visto como incapaz, de ter a intimidade invadida ou de se tornar um peso para a família. Reconhecer esses sentimentos é o primeiro passo para que o cuidado seja acolhido e não imposto.

É importante lembrar que o idoso construiu uma vida inteira tomando decisões, cuidando de outros e resolvendo seus próprios problemas. De repente, alguém chega para ajudar a tomar banho, preparar refeições ou organizar remédios. Mesmo que essa ajuda seja necessária, ela pode soar como uma ameaça à dignidade. Por isso, a introdução do cuidador deve ser gradual, respeitosa e, sempre que possível, conduzida com a participação ativa do idoso.

Conversar com calma faz diferença. Explicar que o cuidador não veio para substituir, mandar ou controlar, mas para apoiar e facilitar o dia a dia. Começar com pequenas tarefas, como acompanhar em consultas ou ajudar em atividades específicas, costuma gerar mais aceitação do que uma mudança brusca na rotina. Quando o idoso percebe que continua sendo ouvido e respeitado, a resistência tende a diminuir.

No entanto, há um ponto delicado que muitas famílias evitam enxergar. Em diversas situações, quem mais resiste à presença de um cuidador não é o idoso, mas o familiar. Seja por culpa, medo de julgamento, dificuldades financeiras ou pela sensação de fracasso por não dar conta sozinho, o familiar pode projetar sua própria dor e insegurança na figura do cuidador. Assim, a resistência ganha outro rosto, mais silencioso e, às vezes, mais duro.

O familiar cuidador costuma estar exausto, emocionalmente sobrecarregado e, ao mesmo tempo, com dificuldade de pedir ajuda. Aceitar um cuidador profissional pode significar admitir limites, e isso nem sempre é fácil. Por isso, é fundamental que a família também seja acolhida nesse processo. Cuidar de quem cuida é parte essencial do cuidado com o idoso.

Quando o diálogo inclui todos, as chances de sucesso aumentam. Ouvir o que o idoso teme, mas também o que o familiar sente, cria um ambiente mais seguro para a mudança. O cuidador, por sua vez, deve ser apresentado como alguém que soma, não que substitui afetos ou responsabilidades.

Introduzir um cuidador é, antes de tudo, um exercício de empatia. Não se trata apenas de organizar tarefas, mas de respeitar histórias, vínculos e fragilidades. Quando o cuidado é apresentado com humanidade, paciência e verdade, ele deixa de ser uma ameaça e passa a ser um gesto de amor compartilhado.


Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Cuidados Domiciliares, apresentador do IssoPodAjudar e criador da Cuidare Home Care 

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