Com a proximidade do Natal, fui a uma loja de brinquedos, após um longo período sem frequentar esse tipo de estabelecimento. Estava curioso para saber o que se vendia. Minha intenção era compreender as preferências atuais das crianças, pois a minha referência eram os meus três filhos, que sempre foram entusiastas de jogos de tabuleiro. Na verdade, queria ideias para presentear meus netos. Era preciso saber com o que as crianças brincam hoje.
Notei que o número de lojas que somente vendem brinquedos não é muito grande. Escolhi uma e, antes de entrar, imaginei encontrar prateleiras repletas de brinquedos eletrônicos. Perguntava-me se ainda haveria produtos das marcas tradicionais.
Eu sabia que a criança de hoje não é mais como aquela de 20, 30 anos atrás. Os tablets, os games e os celulares deviam estar disputando com as bonecas e os carrinhos a preferência da molecada.
Dentro da loja, percorri os corredores e conversei com os vendedores, todos muito jovens. O gerente, proporcionou-me uma conversa agradável e esclarecedora.
Nas conversas dentro da loja, ficou claro que o universo dos brinquedos mudou profundamente. A indústria nacional encolheu: muitos fabricantes brasileiros fecharam as portas diante da forte presença de grandes marcas internacionais.
Também mudou o público consumidor. Se antes os brinquedos acompanhavam as crianças até os 12 ou 13 anos, hoje o interesse costuma desaparecer por volta dos 7 ou 8, encurtando a infância lúdica. Em contrapartida, cresceu de forma expressiva a oferta de brinquedos para bebês e crianças bem pequenas, faixa que ganhou destaque nas prateleiras.
Outro traço marcante é a exigência de interatividade: bonecas que não choram, carrinhos sem movimento próprio ou personagens rígidos já não seduzem os pequenos. Enquanto isso, clássicos como Autorama, Ferrorama e Forte Apache migraram para o território dos colecionadores — e, além disso, muitos se tornaram incompatíveis com os espaços reduzidos dos apartamentos atuais.
Os jogos de tabuleiro ainda sobreviveram, mas transformados: o tradicional Banco Imobiliário agora opera sem papel-moeda, com cartões e transações eletrônicas. Já o quebra-cabeça, ainda presente, tornou-se mais atraente para adultos do que para crianças.
Curiosamente, um novo movimento surgiu: jovens que trocaram cedo os brinquedos pelos games e telas agora voltam às lojas, buscando itens colecionáveis ligados a universos como Star Wars e Harry Potter.
Uma surpresa positiva foi descobrir que o LEGO, embora muito caro, continua sendo um dos brinquedos mais vendidos globalmente, incluindo o Brasil. Essa constatação trouxe-me esperança sobre o futuro do brincar e da criatividade nas novas gerações.
O mundo tem salvação.
Francisco Carbonari é ex-secretário de Educação