Se há uma coisa que mais me alegra, que mais me encanta, é ver o jundiaiense defender sua terra, seu espaço. Nestes dias tristes, em que a nossa Galeria Bocchino sofreu um incêndio, me lembrei de inúmeros sorvetes que tomávamos ali, eu e minha prima, escondidas de nossos pais, quando nos aventurávamos pelo antigo Centro, sozinhas.
Dentro da tragédia, tantas pessoas se comoveram e se uniram em prol desta memória. Logo na segunda, eu fui andar por ali, para ver o que podia ser feito, como andavam as mudanças, e constatei que o Centro tem pressa.
É louvável que esta administração tenha encampado essa luta. Profissionais dedicadíssimos da Prefeitura estão planejando a mudança efetiva, em um diálogo real entre a sociedade e o poder público. Este é o maior ponto positivo da administração de Gustavo Martinelli.
Mas, a despeito de tanto empenho, creio que o Centro não pode esperar mais o próximo incêndio. É preciso que medidas urgentes sejam tomadas, incluindo a exigência aos proprietários da revisão de suas instalações elétricas, cuidado com a sujeira e o lixo que muitas casas e comércios abandonados deixaram ali, em um perigo eminente para a saúde pública.
O arquiteto e urbanista, Eduardo Carlos Pereira, aqui em sua coluna do JJ, já alertou que a lei sobre propaganda de fachadas continua valendo. Então, está na hora de o plástico e outros absurdos cederem para que a gente possa olhar de novo para as fachadas históricas. Está na lei, basta cumprir.
Em relação à limpeza diária, avançamos muito. Acho mister mostrar a dedicação do secretário de Serviços Públicos, Jeferson Coimbra, sobre o assunto. Sempre solícito às demandas do comerciante. Luciane Mosca, nossa secretária de ação social, também faz um excelente trabalho junto à população vulnerável, tentando buscar acolhimento e tratamento para eles.
Entretanto, é preciso pressa. Não dá para a gente colocar geradores elétricos na rua para que barraquinhas sejam montadas no final do ano, numa grande quermese, sem antes pensar na efetiva segurança do Centro, e digo segurança em relação a futuros incêndios, mobilidade (com reparo nas calçadas), enterrar o cabeamento, exigir e fiscalizar a sujeira de terrenos, com intervenções imediatas, e fachadas reparadas.
A segurança também melhorou, mas ainda não dá pra andar no Centro à noite. Digo isso porque a sede do JJ fica na esquina da rua Barão de Jundiaí e nossa equipe de reportagem constantemente é abordada por assaltantes quando voltamos tarde da noite. Faltam iluminação e equipe no local neste horário.
As soluções não são simples. E acabam sendo estruturantes. A falta de apoio social, educação e saúde levam-nos a receber moradores em situação de rua. A falta de planejamento econômico nos deixou sem saber que atividade deveríamos ter chamado para se instalar no local, o descaso de anos nos levou à sujeira e abandono.
Mas agora, às vésperas do Natal, chegou a hora de nos encantarmos com o Centro e garantir que obras e investimentos venham depressa. Aos comerciantes engajados, à administração, tiro meu chapéu e aguardo pelo sorvete mais amado dos jundiaienses, na Galeria Bocchino.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ