Sócrates nos deixou — ou pelo menos é atribuída a ele — uma das frases mais brilhantes da humanidade: "Eu só sei que nada sei."
Jesus, por sua vez, muito antes de cargos, títulos ou crachás, afirmou simplesmente: "eu SOU o que SOU."
E Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, completou certa vez: "Estar no poder é como ser uma dama. Se você tiver que lembrar às pessoas que é, então você não é."
Esses três personagens revelam algo poderoso: a verdadeira grandeza dispensa adjetivos.
Sócrates entendia que reconhecer a própria ignorância o colocava em vantagem sobre aqueles que acreditavam saber alguma coisa. Ele sabia que o conhecimento humano é infinitamente pequeno diante de tudo o que ainda é possível aprender.
A vaidade, nesse sentido, é contraproducente. Ela cega o líder — graduado, mestre ou pós-doutor — para o fato de que saber não é o mesmo que estar pronto.
A expressão "eu SOU o que SOU", dita por Jesus quando João Batista, preso, enviou discípulos para confirmar se Ele realmente era quem dizia ser, é ainda mais profunda.
Faço aqui minha interpretação livre. Mesmo entendendo que o SOU o que SOU, para Jesus, era dizer que também era Deus. Mas quando você viu Jesus inflando o peito para dizer que era Deus, exibindo poderes...? Não! Jesus era um líder sábio. Um líder situacional. Um líder servidor. Menos um líder vaidoso.
"Eu SOU o que SOU" não é um título, não é uma descrição pomposa, não é um crachá. É ausência de vaidade. É identidade, não ostentação.
E não deveria ser exatamente isso que caracteriza um líder?
Eu SOU o que SOU dentro do que vim fazer aqui no meu papel de líder.
A Dama de Ferro também nos mostra isso. Seus resultados falam por ela. E olhando para o que ela realizou, sabemos que a vaidade não era o alimento que nutria sua liderança.
Se preciso dizer que sou, então não serei.
E o líder vaidoso é justamente aquele que precisa dos holofotes, ainda que às custas da equipe.
Impõe opiniões, sufoca ideias, e interrompe a evolução das pessoas — e da própria empresa.
O líder vaidoso: um perigo silencioso.
O líder vaidoso precisa de rótulos para esconder vazios, de cargos para disfarçar fragilidades, de aplausos para sustentar inseguranças.
Não lidera com o coração — lidera com o ego.
E o ego, sempre carente, contamina a razão, as decisões e o ambiente ao redor.
No território empresarial, a vaidade é talvez a pior das vaidades:
Terrível para a equipe.
Desastrosa para os resultados.
Silenciosa, sorrateira e difícil de admitir.
O líder vaidoso se incomoda quando é contrariado, rejeita boas ideias que não nasceram dele, resiste a mudanças que possam revelar que não sabe tudo.
E mesmo quando parece simpático, sua vaidade segue corroendo o desempenho, infiltrando-se em tudo ao seu redor.
Muitos líderes, na verdade, usam o cargo como esconderijo emocional para suas próprias sombras.
Mas há esperança: vaidade tem cura.
Trabalho há mais de 30 anos desenvolvendo líderes — ajudando-os a entender limitações, mas, sobretudo, potenciais.
E entre as limitações mais danosas está exatamente ela: a vaidade.
A cura começa quando o líder decide se refazer:
Mudar comportamentos,
Mudar visão,
Mudar postura,
Mudar o modo de se relacionar com sua própria humanidade.
Vaidade é ego. Mudança é inteligência.
Não é um processo fácil — mas é possível.
Requer reflexão.
Um mergulho profundo em si mesmo para descobrir o que alimentou essa vaidade, o que a motivou, o que a tornou necessária.
E, depois desse entendimento, surge uma descoberta extraordinária:
A vaidade é não ter vaidade.
Marcelo Possidônio é especialista em T&D, liderança e felicidade no trabalho desde 1994. Formado em RH, pós-graduado em Psicologia das Organizações e autor de diversos livros.
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