OPINIÃO

Oportunismo: a velha arte de aproveitar o momento


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Caro leitor, o oportunismo é uma daquelas práticas que atravessam gerações sem jamais perder a atualidade. Discreto ou descarado, ele se instala nos espaços onde há brechas, silêncio, ausência de vigilância ou simplesmente uma boa chance de levar vantagem. A sociedade muda, as tecnologias avançam, os discursos se renovam, mas o comportamento oportunista, esse permanece reconhecível, quase previsível, como uma sombra que se adapta a qualquer época.

Em tempos de instabilidade, o oportunismo costuma florescer com mais vigor. Crises econômicas, conflitos políticos, desastres ambientais ou incertezas sociais criam o terreno perfeito para quem enxerga na fragilidade coletiva uma oportunidade de autopromoção. O discurso do bem comum se torna apenas um disfarce conveniente. Basta observar como, em momentos de grande tensão, surgem “salvadores da pátria” prontos para oferecer soluções rápidas, quase sempre acompanhadas de interesses particulares.

No cotidiano, o oportunismo é igualmente corrosivo, embora mais silencioso. Ele aparece na pessoa que se aproxima apenas quando precisa, no colega que se credita pelo esforço alheio, no político que muda de posicionamento conforme a direção dos ventos, na empresa que explora tendências sem qualquer compromisso ético. É um comportamento que mina a confiança, alimenta o cinismo e reforça a sensação de que a esperteza vale mais do que a honestidade.

Mas, apesar do tom negativo que o termo carrega, é importante distinguir oportunismo de oportunidade. Aproveitar momentos favoráveis faz parte da vida, do crescimento, da própria sobrevivência. O problema surge quando a oportunidade é construída sobre o prejuízo, a fraqueza ou a boa-fé de outros. Quando a vantagem pessoal se torna prioridade absoluta, mesmo que às custas de danos coletivos, cruzamos a linha perigosa onde o oportunismo se instala.

Num mundo cada vez mais competitivo  e saturado de narrativas, resistir ao oportunismo exige consciência e responsabilidade. Exige olhar para além do ganho imediato e refletir sobre as consequências das escolhas individuais. E, sobretudo, exige reconhecer que integridade não é uma palavra antiquada: é um valor indispensável para qualquer sociedade que deseja se sustentar sobre bases sólidas.

Oportunistas sempre existirão. A verdadeira questão é: estaremos nós prontos para não legitimar suas práticas? Pense nisso!

Micéia Lima é pedagoga, psicopedagoga e neuropsicopedagoga 

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