OPINIÃO

COP30: saldo misto na agenda climática


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Sob presidência brasileira, a COP30, que reuniu 195 países e foi encerrada no sábado (22), em Belém, deixou um saldo misto. Embora tenha promovido avanços concretos em algumas frentes, especialmente no que tange a adaptação, o encontro foi marcado por impasses em temas centrais — como a retirada de combustíveis fósseis —, refletindo as tensões geopolíticas e financeiras que rondam a agenda climática global.

Entre os principais progressos está a Meta Global de Adaptação (GGA), que finalmente ganhou um conjunto de indicadores para medir como os países se preparam para eventos extremos. Em vez dos 100 parâmetros almejados, foram definidos 59, abrangendo setores como água, saúde, infraestrutura e ecossistemas. Apesar de mais enfraquecido, trata-se de um marco histórico, pois até então não havia consenso sobre métricas globais para adaptação.

Outro ponto considerado um avanço por especialistas foi o compromisso de triplicar o financiamento para adaptação até 2035, mesmo sem detalhar valores iniciais. A urgência de se investir mais em adaptação foi reconhecida, mas os detalhes ficaram para 2026.

A criação do mecanismo de transição justa também foi celebrada. O mecanismo estabelece diretrizes para garantir que a migração para economias de baixo carbono ocorra com proteção social, geração de empregos e apoio a comunidades vulneráveis. Além disso, houve reconhecimento inédito do papel de povos indígenas, afrodescendentes e comunidades locais na mitigação e adaptação, com inclusão explícita em textos decisórios.

Outro destaque foi o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que pretende captar US$ 25 bilhões para financiar projetos de conservação. O Fundo ganhou visibilidade na COP30, sai de Belém com US$ 6,7 bilhões assegurados e com a perspectiva de que a lista de países doadores seja ampliada.

Apesar das expectativas, a COP30 não conseguiu o que muitos consideravam essencial: um roteiro, um “mapa do caminho”, para organizar a transição para longe dos combustíveis fósseis e zerar o desmatamento ilegal até 2030. Esses temas são considerados cruciais para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estabelece o Acordo de Paris.

O documento final não menciona explicitamente petróleo, carvão ou gás nem estabelece prazos para sua retirada. Isso ocorreu porque países produtores de petróleo e grandes consumidores de carvão, como Arábia Saudita, Índia e, em parte, China resistiram, gerando um impasse nas negociações. Já na questão do desmatamento, divergências sobre soberania e financiamento travaram negociações.

A proposta brasileira de um “mapa do caminho” para atingir o objetivo de se afastar dos combustíveis fósseis recebeu apoio de mais de 80 nações, mas não alcançou consenso. Ainda assim, o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, disse que seguirá trabalhando neste tema até a próxima conferência.

Outro ponto sensível foi o financiamento climático. Embora tenha sido reafirmada a meta de US$ 1,3 trilhão anuais até 2035, não houve clareza sobre mecanismos para garantir esses recursos nem sobre critérios de acesso para países em desenvolvimento. Essa indefinição preocupa especialistas, pois, sem dinheiro, os indicadores de adaptação podem se tornar letra morta.

Em resumo, a COP30 manteve a direção do Acordo de Paris, mas não entregou a escala necessária para enfrentar a emergência climática. Agora, as atenções se voltam para a COP31, marcada para 2026 na Turquia, onde a pressão por medidas concretas certamente será ainda maior.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP

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